sábado, 17 de julho de 2010

Ao meu avô materno José dos Santos Amaro


17-Julho-2010

Partiste deste Mundo sem eu me ter despedido de ti.
Sinto-me irreparávelmente afundada num desgosto profundo. Perdi a derradeira oportunidade de me despedir de ti, de ver o teu olhar azul cuja face franzina e risonha estava enrugada pelos belos anos da tua magnífica existência. Mas o brilho dos teus olhos, esse, nem as rugas o conseguiam encobrir...e agora esse brilho desapareceu nesta noita fatídica para todo o sempre.
Nunca até hoje sabia o que era perder um ente querido nem o que uma pessoa poderia sentir nessa situação...infelizmente agora sei-lo...e dói. É um sentimento estranho e não sei como reagir mas os meus olhos vertem água salgada até momentaneamente secarem, o coração parece que se despedaçou e os soluços sufocam-me.
Desde que foste internado que apesar de todos serem pessimistas e nos estarem a anunciar a tua morte que eu acreditei que ias conseguir viver mais e puder ver-te e puder abraçar-te...mas não...
A minha mãe disse que quando te foi ver ao hhospital tu não falavas por causa do AVC então ela mostrou-te uma foto minha e tu começaste a chorar...agora os remorços e a minha dor são tantos e a minha consciência não pára de me culpar...
Hoje à noite antes de saber a notícia, deite-me no sofá a ver televisão...um programa captou a minha atenção sem razão aparente, eu não sabia o porquê de estra a ver aquele filme e muito menos de estar a chorar desalmadamente...o filme era sobre um pescador velho, com olhos azuis como os teus e fez-me lembrar de ti...tudo nele era velho e cansado menos o seu olhar e a sua força de viver...mesmo que a vida o maltratasse...ficou 85 dias sem prescar nada no mar, vivia miseravelmente, só tinha um pequeno rapaz que era seu amigo e lhe dava a pouca comida que tinha, um dia sozinho conseguiu pescar um grande espadarte mas os tubarões arruinaram-lhe a pesca...
O final não sei porque me levantei e segundos depois o filme tinha acabado...mas agora sei porque estava a ver aquele filme e a chorar, pressenti qualquer coisa, aquele pescador eras tu avô: bravo e mesmo doente queria e tinha de ir ao mar...
O telefone tocou pouco depois, senti uma má vibração e decidi ignorar esse pressentimento bem como o telefonema...ninguém atendeu, ligaram-me para o telemóvel...não quis atender, deite-me tentei ignorar todos esses presságios e pensamentos, tentei adormecer mas não conseguia...o meu pai entrou no meu quarto com um tom grave na voz e eu parece que já sabia o que ele ia dizer por isso fingi que dormia...algo me dizia para não ouvir, para evitar, para ignorar...mais tarde levanto-me e vejo que tenho uma mensagem no telemóvel: "o avô morreu", e é então que uma crise incontrolável de choro apodera-se da minha alma...não consegui acreditar.
Não, não dá para acreditar que te foste embora, não, NÃO sem eu me ter despedido de ti, sem eu nunca ter tido a coragem de te poder mostrar o quanto de admiro, que te amo, pois és um herói para mim...
Foi há cerca de 7 meses que te vi pela última vez...mas não me consigo lembrra do teu último olhar, de como foi essa última vez que te abracei, do que te disse cara à cara e do que tu me disseste a mim...só eu sei o quanto me sinto mal agora...
A última vez que ouvi a tua voz foi por telefone, antes de seres internado, quando ainda conseguias falar...estavas bem disposto, falámos do tempo que estava "está calor"dizias, perguntei-te se estava tudo bem e tu disseste que sim, se estavas melhor e tu disseste que sim...pudera és forte e mesmo estando mal dirias que estavas bem...ouvia-te a rir do outro lado da linha e subitamente ficámos sem assunto até me disseste: "então não dizes nada?" (desculpa avô :( então dissemos adeus...nunca pensei que esse seria o último adeus!
A tua voz ecoa na minha mente como uma sinfonia melancólica e ao mesmo tempo alegre...porque ao menos lembro-me da tua voz, mas não consegui perceber o quão poderias estar mal, o quão verdadeiramente eras importante para mim, porque nunca consegui dizer: "gosto muito de ti avô". Mesmo afastados pela distância és importante para mim, és o meu exemplo a seguir...e não me conseguirei habituar a dizer que eras, que foste...não consigo acreditar que já não és...
Como viverei o resto dos meus dias com a culpa, a mágoa e a tenebrosa dor de nunca me ter despedido de ti?
Nunca falámos muito, talvez porque raramente te via mas respeitava-te imenso...adorava-te!
Espero que na hora final a morte tenha tido compaixão por ti e não tenhas sofrido muito e onde quer que estejas, onde quer que a tua alma esteja espero que estejas em paz.
A tua memória, o teu riso, a tua bravura, a tua coragem, a tua coragem de viver...essas coisas ficarão para sempre comigo bem como a mágoa, a tristeza e o inconformismo e a implacável dor de não me ter despedido de ti. Hoje não foste só tu que morreste, uma parte de mim também morreu contigo.
Descansa em paz avô...eu sempre te amei e sempre te continuarei a amar.

Com eterna saudade da tua neta que jamais te esquecerá:

Amo-te Avô!

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