Parece que o maior vilão da História do Brasil para os brasileiros foram os portugueses, eu sei o bla bla: os portugueses desgraçaram o Brasil, roubaram o ouro todo (já nem o temos deve estar num cofre em Berlim e já não deve ser nosso), devastaram as florestas (muito embora seja agora o próprio Brasil a permitir a desflorestação criminosa da Amazónia) e deixaram o país na miséria, foram os vilões dos portugueses levaram de África milhões de negros para serem escravizados (muitas vezes por outros negros e índios que se tornaram senhorios de grandes terras e se ocidentalizaram), os portugueses é que chacinaram os índios todos (e agora os poucos que restam estão a ser desprezados e maltratados pela comunidade brasileira...que não haja dúvidas, o brasileiro verdadeiro é o índio e merecia mais respeito pelos outros brasileiros que mais não são do que colonos ou talvez "espécies invasoras"), foram os portugueses que acabaram com a língua geral dos índios (coisa que nunca existiu mesmo...no entanto hoje o Brasil não está muito empenhado em preservar a cultura indígena derrubando os seus últimos aldeamentos para fazer barragens e prados para criação de gado).
Várias pesquisas pela internet mostram que muitos brasileiros têm essa ideia dos portugueses como vilões, e culpados por todos os seus males, já li que comentários de brasileiros que diziam que lamentavam não terem sido colonizados por outro povo mais culto como os ingleses em vez dos portugueses que são incultos, burros, ignorantes, insignificantes, já li que a língua brasileira um dia terá independência da portuguesa porque o brasileiro não tem nada a ver com o português, já li coisas em blogues como a culpar os portugueses por haver favelas no Brasil e já vi em blogues fotos de brasileiros em Belém com a legenda "foi aqui que Pedro Álvares Cabral saiu para desgraçar o Brasil"....enfim. A internet potencia discursos de ódio mas sei perfeitamente que os portugueses são muitas vezes os vilões da História do Brasil.
Durante muito tempo achei mesmo que os portugueses tivessem matado índios por vontade malévola e outras atrocidades nomeadamente a escravatura mas vendo bem, como um povo de 1 milhão de habitantes (em 1500),num país que não é nada (sim é um pedaço de terra, uma tirinha menor que o Estado mais pequeno do Brasil) pôde ter conseguido criar e ter um território ultramarino da dimensão do Brasil? Por melhores que os navegadores fossem eram centenas, estavam fracos e tinham poucas munições e não conseguiriam matar aqueles milhares e milhares de índios para além de que tiveram de afastar outros potenciais colonos que queriam ficar com parcelas do Brasil como os franceses e holandeses...por isso só há uma razão possível: tiveram apoio dos índios conseguindo de algum modo uma espécie de amizade.
Este livro é de facto um novo enfoque na História, está muito bem escrito e decidi partilhar uns excertos sobre a História Portugal-Brasil, espero que o autor não se importe.
Comprem o livro, está muito bem escrito e interessante, leiam, está muito bom.
"Por mais voltas que se dê, é impossível contar a história do Brasil sem falar de Portugal. A vida dos dois países sempre se cruzou mais do que se podia supor."
Excertos do livro: "Guia politicamente incorrecto da História do Brasil" de Leandro Narloch
"Os historiadores já fizeram relatos muito diversos dos índios brasileiros. Nos primeiros relatos, os nativos eram seres incivilizados, quase animais que precisaram de ser domesticados ou derrotados. Uma visão oposta propagou-se no século XIX, com o indianismo romântico, que retratou os indígenas como bons selvagens donos de uma moral intangível. Parte desta visão continuou no século XX. Historiadores como Florestan Fernandes, que em 1952 escreveu A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá, construíram relatos em que a cultura indígena original e pura teria sido destruída pelos gananciosos e cruéis conquistadores europeus. Os índios que ficaram para essa história foram os bravos e corajosos que lutaram contra os portugueses. Apesar de tentar dar mais valor à cultura indígena, os textos continuaram a encarar os índios como coisas, seres passivos que não tiveram outra opção senão lutarem contra os portugueses ou submeter-se a eles. Surgiu assim o conhecimento popular e as aulas de escola. Este discurso fez-nos acreditar que os nativos da América viviam em harmonia entre si e em equilíbrio com a natureza até os portugueses chegarem, travarem guerras eternas e destruírem plantas, animais, pessoas e culturas.
Na última década, a história mudou outra vez, uma nova leva de estudos, que ainda não se popularizou, toma a cultura indígena não como um valor cristalizado. Sem negar as caçadas que os índios sofreram, os investigadores mostraram que eles não foram apenas vítimas indefesas. A colonização foi marcada também por escolhas e preferências dos índios, que os portugueses, em número muito menor e precisando de segurança para instalerm as suas colónias, diversas vezes acataram. Muitos índios foram amigos dos brancos, aliados em guerras, vizinhos que se misturaram até se tornarem a população brasileira de hoje. «Os índios transformaram-se mais do que forma transformados», afirma a historiadora Maria Regina Celestino de Almeida na tese Os Índios Aldeados no Rio de Janeiro Colonial, de 2000.
As festas e bebedeiras de índios e brancos mostram que não houve só tragédias e conflitos durante aquele choque de civilizações. Em pleno período colonial, muitos índios deviam achar muito aborrecido viverem nas tribos ou nas aldeias dos padres. Queriam ficar com os brancos, misturar.se com eles e desfrutar das novidades que estes traziam.
O contacto das duas culturas merece um retrato ainda mais distinto, grandiloquente até. Quando os europeus e ameríndios se reencontraram, nas praias do Caribe e do Nordeste brasileiro, romperam um isolamento das migrações humanas que completava 50 mil anos. É verdade que o impacto não foi leve - tanto tempo de separação provocou epidemias e choques culturais. Mas aconteceram para os dois lados e não apagam uma verdade essencial: aquele encontro foi um dos episódios mais extraordinários da historia do povoamento humano sobre a Terra, com vantgens e descobertas sensacionais tanto para os europeus como para as centenas de nações indígenas que viviam na América.
Cinco verdades que não deveríamos conhecer:
1) Quem mais matou índios foram os índios
Uma das concepções mais erradas sobre a colonização do Brasil é acreditar que os portugueses fizeram tudo sozinho. na verdade, eles precisavam de índios amigos para arranjarem comida, entrarem no mato à procura de ouro, defenderem-se de tribos hostis e, até, para estabelecerem acampamentos na costa. Descer do navio era o primeiro problema. Os comandantes das naus europeias costumavam escolher bem o lugar onde desembarcar, para não correrem o risco de serem atacados por índios nervosos e nuvens de flechas venenosas. Depois de meses de viagem nas caravelas, os navegadores ficavam mal-nutridos, doentes, fracos, famintos e vulneráveis. Chegavam a lugares desconhecidos e frequentemente tinham azar: levavam uma tareia e precisavam de sair à pressa das terras que achavam ter conquistado.
Até mesmo Américo Vespuúcio, que deu nome ao continenente, teve que fugir de índios furiosos em 1501, quando a sua expedição tentava estabelecer uma base no litoral do Rio grande do Norte. Alguns marinheiros que se atreveram a desembarcar, entrar pela praia e caminhar até a um monte perto da costa nunca mais voltaram. Desapareceram misteriosamente.
Na Ásia aconteceu até os europeus terem de mendigar para arranjar comida, como na primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, em 1498 (Vasco da Gama ofereceu à corte de Calcutá chapéus, bacias e azeite em troca de pimenta. os nobres indianos consideraram os produtos ridiculamente primitivos, e só não executaram o navegador porque não viram uma ameaça no estranho esfarrapo. Sem dinheiro para alimentar a tripulação, Vasco da Gama mandou que os seus homens sujos e famintos fossem para as ruas pedir comida).
O tratamento foi diferente no Brasil, mas não muito. Os portugueses não eram seres omnipotentes que faziam o que queriam nas praias brasileiras. imagine! Alguém viaja para o lugar mais desconhecido do mundo, que apenas algumas dúzias de pessoas do seu país visitaram. Há sobre o sítio relatos tenebrosos de selvagens guerreiros que falam uma língua estranha, andam nus e devoram os seus inimigos -ao chegar, percebe que isso é verdade. O seu grupo é de 20 ou 30 pessoas; eles, são milhares. mesmo com espadas e arcabuzes as suas munições são limitadas, o seu carregamento é demorado e não contém os milhares de flechas que eles possuem. Em condições destas, é provável que se sinta medo ou, pelo menos, que se prefira evitar conflitos. Far-se-iam algumas concessões para que aquela multidão de pessoas estranhas não se irritasse. Para deixar os índios felizes, não bastava aos portugueses entregar-lhes espelhos, ferramentas ou roupas. eles, de facto, ficaram impressionados com essas coisas, mas foi um pouco mais difícil conquistar o apoio indígena. Por mais revolucionários que fossem as roupas e os objectos de ferro dos europeus, os índios não viam sentido em acumular bens: depressa se cansavam de facas, anzóis e machados. Para permanecerem instalados, os recém chegados tiveram de soprar a brasa dos caciques estabelecendo alianças militares com eles. Dando e recebendo presentes, os índios acreditavam selar acordos de paz e de apoio quando houvesse alguma guerra. E meterem-se em guerras era uma coisa que eles sabiam fazer muito bem.
O massacre começou muito antes de os portugueses chegarem. As hipóteses arqueológicas mais consolidadas sugerem que os índios da família linguística tupi-guarani, originários da Amazónia, se expandiram lentamente pelo Brasil. Depois de um crescimento populacional na floresta Amzónica teriam enfrentado alguma adversidade ambiental, como uma grande seca que os empurrou para o Sul. À medida que se expandiam, afugentaram tribos então donas da casa. por volta da viragem do primeiro milénio, enquanto legiões romanas avançavam pelas planícies da Gália, os tupis-guaranis conquistavam territórios do Sul da Amazónia, exterminando ou expulsando inimigos.
Em 1500, quando os portugueses apareceram na praia, a nação tupi espalhava-se de São Paulo ao Nordeste e à Amazónia, dividia em diversas tribos, como tupiniquins e tupinambás, que disputavam espaço travando guerras constantes entre si e com índios de outras famílias linguísticas. Não se sabe exactamente quantas pessoas viviam no actual território brasileiro - as estimativas variam muito, de 1 milhão a 3,5 milhões de pessoas, divididas em mais de 200 culturas. Ainda demoraria alguns séculos para essas tribos se reconhecerem na identidade única de índios, um conceito criado pelos europeus. Naquela época, um tupiunambá achava um botocudo tão estrangeiro como um português. Guerreava contra um tupininquuim com o mesmo gosto com que devorava um jesuíta. Entre todos esses povos, a guerra não era só comum - também fazia parte do calendário das tribos, como um ritual que tinha uma altura mais ou menos certa para se realizar. Os índios tupis, sobretudo, eram obcecados pela guerra, os homens só tinha permissão para casar ou ter mais esposas quando capturassem um inimigo dos grandes. Outros grupos acreditavam assumir os poderes e perspectiva do morto, passando a controlar o seu espírito, como uma espécie de animal de estimação. Entre canibais como tupinambás, os prisioneiros eram devorados numa festa que reunia toda a tribo e os convidados da vizinhança.(É simples explicar porque é que os índios matavam tanto. Eles não consideravam o assassinato um pecado, como os cristãos. Para algumas tribos, matar era um requisito para o paraíso. Segundo o calvinista francês Jean de Léry, os tupinambás acreditavam que «depois da morte, os que viveram dentro das normas consideradas certas, que são as de matarem e comerem muitos inimigos, vão para além das altas montanhas dançar em lindos jardins com as almas dos seus avós»)
Com a vinda dos europeus, que também gostavam de uma guerra, esse potencial bélico multiplicou-se. Os índios travaram guerras entre si duríssimas na disputa pela aliança com os recém -chegados. Passaram a capturar muito mais inimigos para trocar por mercadorias. Se antes valia mais a qualidade, a posição social do inimigo capturado, a partir da conquista a quantidade de mortes e prisões ganhou importância. Por todo o século XVI, quando uma caravela se aproximava da costa, índios de todas as partes vinham a correr com prisioneiros, os portugueses, interessados em escravos, compravam os presos com o pretexto de que, se não o fizessem, eles seriam mortos ou devorados pelos índios. Em 1605, o padre Jerónimo Rodrigues, quando viajou pelo litoral de Santa Catarina, ficou estarrecido com o interesse dos índios em trocar gente, até da própria família, por roupas e ferramentas.
No livro Sete Mitos da Conquista Espanhola, o historiador Mathew Restall fala do guerreiro invisível que matou os índios do México. Se os espanhóis eram um punhado de aventureiros, e os astecas eram milhões, como é que os primeiros podem ter conseguido conquistar o México? É claro que não foi acto de um guerreiro invisível (embora as epidemias tenham matado muita gente). Na verdade, os espanhóis não eram poucos. «O que com frequência é ignorado ou esquecido é o facto de que os conquistadores tendiam a ser superados em números também pelos próprios aliados nativos», afirma Restall. Os espanhóis ficaram de um lado da guerra entre facções astecas - ajudaram os índios e ganharam ajuda deles. É razoável supor que, se houvesse algum senso de solidariedade étnica no México, a conquista teria sido muito mais difícil ou talvez impossível. Pode dizer-se o mesmo sobre o Brasil. O extermínio e a escravidão dos índios não seriam possíveis sem o apoio dos próprios índios, de tribos inimigas.
As tribos não apoiavam os colonos por obediência cega, os seus líderes, que também participavam nas bandeiras e nas batalhas, estavam interessados na parceria para derrotar outras tribos.
Um bom exemplo da participação deliberada de índios no extermínio de índios é a Guerra dos Tamoios, entre 1556 e 1567: os tupiniquins e os temiminós ajudaram os portugueses a explusar os franceses do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, lutavam contra antigos inimigos: os tupinambás, também chamados tamoios. depois de vencerem, os nativos aliados dos portugueses receberam terras e uma posição privilegiada de colaboradores do reino português. Ficaram responsáveis pela segurança do Rio, na tentativa de evitar ataques á cidade conquistada, transformaram-se no índio colonial, um personagem esquecido da história brasileira.
2)Os índios perguntam: onde estão os índios?
Durante os três primeiros séculos da conquista portuguesa, nenhuma família teve mais poder na vila que deu origem a Niterói, no Rio de Janeiro, quanto os Souza. Típicos membros da elite colonial estes Souza. O interessante é que esses nobres senhores não eram descendentes de nenhum poderosos fidalgo português, o homem que criou a dinastia dos Souza de Niterói chamava-se Arariboia. Era cacique dos índios terminós, que ajudaram os portugueses a expulsar os franceses e os tupinambás do Rio de Janeiro.Com a guerra vencida, muitos temiminós e tupiniquins foram baptizados e adoptaram um apelido português. Arariboia passou a chamar-se Martim Afonso de Souza (em homenagem ao primeiro colonizador do Brasil) e recebeu a sesmaria de Niterói, onde alojou a sua tribo. Menos de 100 anos depois, os seus descendentes já não se viam como índios: eram os Souza e faziam parte da sociedade brasileira. Talvez ainda hoje eles se identifiquem assim.
Muitos historiadores mostram números desoladores sobre o genocídio que os índios sofreram depois da conquista portuguesa. Dizem que a população nativa diminuiu dez, vinte vezes. As tribos passaram mesmo por um esvaziamento, mas não só por causa de doenças e ataques. Costuma-se deixar de fora destas contas o índio colonial, aquele que deixou a tribo, adoptou um nome português e foi compor a conhecida miscigenação brasileira ao lado de brancos, negros e mestiços -e cujos filhos, pouco depois, já não se identificavam como índios.
Não foram poucas as vezes, nem só no Rio, que isto aconteceu. por todo o Brasil, houve índios que foram para as cidades e passaram a trabalhar na construção de pontes, estradas, como marceneiros, carpinteiros, músicos, vendendo chapéus, plantando hortaliças e cortando árvores - e até caçando negros fugitivos.
Vasculhando documentos mineiros no Arquivo Histórico Ultramarino, os historiadores Maria Leônia Chaves de Resende e Hal Langfur encontraram dezenas de registos da entrada dos índios nas vilas aquecidas com a corrida do ouro do século XVIII. Perceberam que muitos nativos se mudaram para as vilas por iniciativa própria, provavelmente porque se sentiam ameaçados por conflitos com brancos ou cansados da vida do paleolítico das aldeias. Chegavam ás dezenas, recebiam uma ajuda inicial do governo e iam trabalhar na propriedade de um colono.
Se fossem escravizados pelos fazendeiros, os índios poderiam recorrer à justiça e requerer a liberdade. Frequentemente ganhavam. A escravidão indígena tinha sido proibida pelo rei Dom Pedro II de Portugal em 1680, e vetada novamente, um século depois, pelo marquês de Pombal, primeiro-ministro do reino português.Dizem os historiadores Maria de Resende e Hal Langfur «a presença inegável dos índios nos sertões e nas vilas durante todo o período colonial, demonstra que eles nunca foram extintos, como afirmou a histografia tradicional».
Nas aldeias do litoral,a população misturou-se pouco, continuando a ter uma influência indígena mais forte. É o caso dos caiçaras, os nativos da praia. Assim como em 1500, estão presentes em quase todo o litoral brasileiro. No entanto como não se consideram índios, não entram na contagem da população indígena actual.
Na Amazónia, esse fenómeno ainda acontece. Quem visita a região espanta-se ao conhecer pessoas com cara de índio, quase vestidas de índio e que ficam contrariadas quando lhes chamam índios. Como nos últimos séculos, muitos deles preferem ser chamados de brasileiros: 25% da população indígena da Amazónia já mora nas cidades, e só metade desse contingente, segundo a Funai, se considera índios apesar de falar uma segunda língua e praticar rituais.
É verdade que essa miscigenação não foi tão intensa como entre africanos e portugueses ou entre índios e espanhóis de outras regiões da América. Pesquisas de ancestralidade genómica, que medem o quanto europeu, africano ou indígena um indivíduo é, sugerem que os brasileiros são em média 8% indígenas. Em 2000, um estudo do laboratório Gene, da Universidade de Minas Gerais, causou espanto ao mostrar que 33% dos brasileiros que se consideram brancos têm ADN mitocondrial vindo de mães índias. «Por outras palavras, embora desde 1500 o nº de nativos no Brasil e tenha reduzido a 10% do original (de cerca de 3,5 milhões para 325 mil), o nº de pessoas com ADN mitocondrial ameríndio aumentou mais de dez vezes», escreveu o geneticista Sérgio Danilo Pena, no Retrato Molecular do Brasil. Esses números sugerem que muitos índios largaram as aldeias e passaram a considerar-se brasileiros. Hoje, os seus descendentes vão ao cinema, andam de avião, escrevem livros e, tal como os seus antepassados, tomam banho todos os dias.
3) A natureza europeia fascinou os índios
A imagem mais divulgada do descobrimento do Brasil é a dos portugueses na praia, com as caravelas ao fundo,a serem recebidos por índios curiosos que brotam da floresta. Na verdade, houve um episódio que aconteceu antes: os índios subiram às caravelas. Pero Vaz de Caminha, o repórter daquela viagem, relata na sua carta que, antes de toda a tripulação desembarcar na praia, dois índios foram recebidos «com muitos agrados e festa» no navio principal. Provaram bolos, figo e mel e ficaram espantadíssimos ao conhecer uma galinha. Esta imagem sugere que, naquela tarde de Abril de 1500, os índios também fizeram a sua descoberta. A chegada dos europeus revelou-lhes um universo de tecnologias, plantas, animais e modos de pensar.
Até à chegada de franceses, portugueses e holandeses ao Brasil, os índios não conheciam a domesticação de animais, a escrita, a tecelagem, a arquitectura em pedra. Assentados sobre enormes jazidas, não tinham chegado à Idade do Ferro e nem sequer à do Bronze. As armas e as ferramentas eram feitas de galhos, madeira, barro ou pedra, e o fogo tinha um papel essencial nas guerras e nas caçadas. Conheciam a agricultura, mas em geral, era uma agricultura rudimentar, pouco intensiva e restrita a pequenas plantações de amendoim e mandioca. Dependendo da sorte na caça e na coleta, passavam por períodos de fome. Não desenvolveram tecnologias de transporte. Não conheciam a roda. A roda.
Dá muita vontade de afirma que os índios eram naturalmente incapacitados para não ter sequer ideia dessas tecnologias básicas, mas não há motivo para isso. Eles são, na verdade, heróis do povoamento humano no fim do mundo, a América, o último continente da terra a abrigar o homem. A chegada a um lugar tão distante custou-lhes o isolamento cultural.
Entre 50 e 60 mil anos atrás, os ancestrais dos índios e dos portugueses eram o mesmo grupo de caçadores e colectores. tinham a mesma aparência, os mesmos costumes, a mesma língua rudimentar. Caminhando juntos rumo ao norte de África, contornaram o mar Mediterrâneo e chegaram ao médio Oriente. Durante a caminhada de centenas de gerações, alguns deles perderam o contacto e separaram-se. Uns debandaram à esquerda, rumo à península Ibérica, enquanto outros continuaram a subir pela Ásia.
O que hoje conhecemos como Ásia era então um bloco e gele sem fim. Com o fim da Idade do Gelo, parte desses glaciares derreteu e o nível do mar subiu. Alguns caçadores nómadas não devem ter percebido, mas já estavam na América, separados dos amigos asiáticos por um oceano. Até então, nenhuma barreira tão definitiva tinha separado o homem. Aos primeiros americanos, não restava outra saída senão migrar para o Sul. Foi assim que chegaram ao Brasil, há cerca de 15 mil anos.
O isolamento na América deixou os nativos americanos fora da mistura cultural que marcou o convívio entre europeus, africanos e asiáticos. Esses povos entraram em contacto uns com os outros ainda na Antiguidade. O choque de civilizações fez com que a tecnologia se espalhasse. Através de guerras, conquistas ou mesmo pelo comércio, as tecnologias e os novos costumes passavam de cultura para cultura. Já os americanos viveram muito mais tempo sem novidades vindas de fora. Tiveram de se desembaraçar sozinhos em territórios despovoados, sem terem com quem trocar ou de quem copiar novas técnicas.
De repente, porém, aconteceu um facto extraordinário. Apareceram no horizonte enormes ilhas de madeira que eram na verdade canoas altas cheias de homens estranhos. Numa quarta-feira ensolarada do sul da Bahia, duas pontas da migração do homem pela Terra, que estavam separados há 50 mil anos, ficaram frente a frente. Os milénios de isolamento dos índios brasileiros tinham enfim acabado.
Antropólogos e cientistas sociais nãos e cansam de repetir que é preciso valorizar a cultura indígena. Os índios que se encontraram com os portugueses no século XVI não estavam nada preocupados com isso. Não sabiam nada de antropologia e migração humana, mas perceberam imediatamente que aquele encontro era sensacional. Fizeram tudo para conquistara a amizade dos novos (ou antigos) amigos. Antes dos brancos desembarcarem, subiram aos navios para os conhecerem. Na praia, deram presentes, reservas de mandioca e as mulheres ofereceram-se, generosas. Devem ter achado que era urgente misturarem-se com aquela cultura e apoderarem-se dos objectos diferentes que aqueles homens traziam.
A história tradicional diz que os portugueses deram quinquilharias aos índios em troca de coisas muito mais valiosas, como o pau-brasil e animais exóticos, isso é achar que os índios eram completamente idiotas, aos seus olhos, nada podia ser mais fascinante do que a cultura e os objectos dos visitantes. Não eram só quinquilharias que os portugueses ofereciam, mas riquezas e costumes seleccionados durante milénios de contacto com civilizações da Europa, da Ásia e da África, que os americanos isolados por uma faixa de oceano de 4 mil quilómetros não puderam conhecer. Comprar aqueles artefactos com papagaios ou pau-brasil era um óptimo negocio.
Imagine, por exemplo, a surpresa dos índios ao conhecerem um anzol. Deixavam de depender da pontaria para conseguir peixes, e agora eram capazes de capturar os peixes que ficavam no fundo. Um machado também deve ter sido uma aquisição sem precedentes. «As facas e os machados de aço dos europeus eram ferramentas que reduziam muito o seu trabalho, porque eliminavam a faina extenuante de lascar pedra e lavrar madeira, e encurtavam em cerca de oito vezes o tempo gasto para derrubar árvores e esculpir canoas», escreveu o historiador americano Warren Dean. «é difícil imaginar quanto deve ter sido gratificante o seu súbito ingresso na Idade do Ferro». No início, os portugueses tentaram esconder dos índios a técnica de produzir metais, proibindo os ferreiros de terem índios como ajudantes, Mas a metalurgia escapou do controlo e espalhou-se pela floresta. A técnica foi transmitida entre os índios ao ponto de os europeus, quando entravam em contacto com uma tribo isolada, já encontrarem flechas com pontas metálicas.
Os índios adoptaram a tecnologia europeia assim como os portugueses ficaram encantados com as florestas brasileiras, eles fascinaram-se com a natureza que veio da Europa. Novas plantas e animais domésticos, que ajudavam na caça e facilitavam o fardo de conseguir comida, forma logo incorporados pelas tribos. Poucos anos depois,seria difícil imaginar o Brasil sem essas espécies.
O melhor exemplo é a banana, originária da região da Indonésia, a banana selvagem tinha uma casca grossa e a polpa rala, desde há 5 mil anos que o homem seleccionava as variedades mais saborosas, com casca mais fina e sem sementes. Plantações da fruta apareceram na Índia há 2300 anos e logo a seguir a banana começou a ser cultivada na China. Com os árabes atravessou toda a África (de onde vem o seu nome actual) e chegou à Europa por influência moura. Ao todo, foram 6500 anos de migração e melhoramento genético oferecidos aos índios brasileiros. Assim como a banana, os índios conheceram através dos portugueses frutos e plantas que hoje são símbolos nacionais e que não faltam em muitas tribos, como a jaca, a manga, a laranja, o limão, a carambola, a gaviola, o inhame, a maçã, o abacate, o café, a tangerina, o arroz, a uva e até mesmo o coco (isso mesmo: até ao descobrimento, não havia coqueiros no Brasil). Quando os jesuítas implantaram a agricultura intensiva perto das aldeias, obter comida deixou de ser um problema. Para quem estava acostumado a plantar só mandioca e amendoim, tendo de suar em caçadas demoradas para arranjar um pouco de proteína fresca, a vida tornou-se muito mais fácil (é verdade que não faltavam frutos e cereais nas matas brasileiras, mas muitos eram espinhosos e difíceis de abrir, como a castanha-do-pará- e não porque os trópicos favorecem plantas esquisitas, mas porque essas espécies não passaram por um processo de domesticação e selecção artificial).
Outra novidade foi o animal doméstico. Com uma floresta farta, os nativos não precisaram de desenvolver criações para abate nem bichos de estimação como os europeus. Galinhas, porcos, bois, cavalos e cães foram novidades revolucionárias que os índios não demoraram a adoptar. Surgiram novas palavras no vocabulário nativo, a maioria associando os novos animais ao facto extraordinário de serem mansos e amigáveis. O porco em tupi, tornou-se taiçu-guaia («porco manso»), os cães receberam o nome de iaguás-mimbabas («onças de criação»). Poucos anos depois de conhecerem a galinha, os índios já vendiam ovos aos portugueses.
Em 1534, quando vieram nos porões das caravelas os primeiros cavalos, fazia pelo menos 10 mil anos que os equinos não pisavam o Brasil. Houve primos nativos de cavalos na América, mas tinham sido extintos durante as mudanças climáticas ou pela caça excessiva. Quando chegou à América, o cavalo europeu era outro dos animais que tinha passado por milénios de domesticação. Quando essa dádiva do melhoramento de espécies chegou à América, os índios ficaram estupefactos.
Mas nenhum animal doméstico provocou tanta surpresa e divertimento aos índios como o bom e velho cão. O primo mais próximo dos cães que havia no Brasil, até então, era o lobo-guará, animal arredio, que mete medo e é muitíssimo feio.Os portugueses trouxeram como presente para os índios um lobo que tinha sido domesticado há 14 mil anos, no Sul da China.
4) Os portugueses ensinaram os índios a preservar a floresta
O mito do índio como homem puro e em harmonia com a natureza já caiu há muito tempo, mas é incrível como ele sempre volta. Toda a gente sabe que personagens como Peri, o heróis do livro O Guarani, de José de Alencar, eram mais uma espécie de relato épico do que de história. Ainda assim, é difícil pensar de maneira diferente. Até os documentários etnográficos e os museus propagam a imagem do índio em paz com árvores e animais. Em Janeiro de 2009, um texto informativo da exposição Oretama, do Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro, dizia que a sociedade indígena «era um tipo de organização que tendia a manter o equilíbrio entre as comunidades humanas e o meio ambiente». Não é bem assim. Antes de os portugueses chegarem, os índios já tinham extinguido muitas espécies e feito um belo estrago nas florestas brasileiras. Se não acabaram completamente com elas, é porque eram poucos para uma floresta tão grande.
As tribos que habitavam a região da mata atlântica deitavam tudo abaixo com facilidade, usando uma ferramenta muito eficaz: o fogo. No fim da estação seca, praticavam a coivara, o acto de queimar o mato seco para abrirem espaço para a plantação, método usado ainda hoje. No início, a coivara é eficiente, já que toda a biomassa da floresta se transforma em cinzas que fertilizam o solo. Depois de alguns anos, o solo empobrece. Pragas e ervas daninhas tomam conta dele. Como não havia enxadas e pesticidas e ninguém sabia adubar o solo, procuravam-se outras matas virgens para queimar e transformar em terrenos de cultivo. O historiador americano Warren Dean que a alimentação de cada habitante exigia a devastação de dois mil metros quadrados de mata por ano.
O fogo usado para fins de caça foi igualmente destruidor, já que a agricultura não era o forte dos índios brasileiros. É verdade que havia pequenas lavouras, principalmente de mandioca, mas ninguém imaginava fazer plantações intensivas ou métodos sistemáticos de colheita, replantio e rotação de culturas. Havia outro empecilho: grandes reservas de comida atraíam invasores, provocando mais guerras e mais mudanças - não valia a pena investir numa área que talvez tivesse de ser abandonada a qualquer momento.
A grande vantagem do fogo era facilitar a caça. Criando fogueiras coordenadas, um pequeno grupo de pessoas consegue controlar uma área enorme de mata sem precisar de machados, serrotes ou outra ferramenta de ferro. As chamas desentocam os animais escondidos na terra, no meio de arbustos e nos galhos. Aves, macacos, veados, capivaras, onças, lagartos e muitos outros animais corriam em direcção ao mesmo ponto, onde os índios os esperavam para os capturarem. Não é por acaso que, assim como em todo o resto do mundo, nas florestas brasileiras só havia animais de grande porte e agressivos: os mais lentos foram rapidamente extintos pelas populações nativas. Para caçar alguns poucos animais, os índios destruíam uma área enorme de floresta.
Os índios caiapós usavam tanto o fogo que daí veio o nome da tribo «caiapó», que significa «que traz fogo á mão».
A floresta era o maior inimigo dos índios, e é fácil perceber porquê. Quem vive no mato conhece bem o significado da expressão «inferno verde», nem tanto por causa das cobras e dos grandes animais que podem atacar o homem, mas por causa dos pequenos. mosquitos, aranhas, formigas e todo o tipo de artrópodes infernizam quem se atreve a passar a noite na mata. Mesmo nas clareiras e nas ocas, ainda hoje os índios precisam de manter fogueiras constantemente acesas, para espantarem os mosquitos. Por isso, quando os portugueses se mostravam interessados no pau-brasil, os índios derrubaram as árvores com gosto. As ferramentas de aço satisfizeram-lhes o desejo de se livrarem da mata sem se importarem com o resultado da devastação.
Os jesuítas encantavam-se com o facto dos nativos não se preocuparem em acumular riquezas, não serem «luxuriosos». Essa característica também fazia os índios não se preocuparem em deixar riquezas naturais para o futuro. Apesar de muitos líderes indígenas de hoje afirmarem que o homem branco destruiu a floresta enquanto eles tentavam protegê-la, esse discurso politicamente correcto não nasceu com eles. Nasceu com os europeus logo nas primeiras décadas após a conquista.
Os portugueses criaram leis ambientais para o território brasileiro logo no século XVI. As ordenações do rei Manuel (1469-1521) proibiram o corte de árvores frutíferas em Portugal e em todas as colónias. No Brasil, essa lei protegeu centenas de espécies nativas. Em 1605, o Regimento do Pau-Brasil estabeleceu punições para os madeireiros que derrubassem mais árvores que o previsto na licença. A pena variava conforme a quantidade de madeira cortada ilegalmente. pequenos excedentes seriam apreendidos e condenavam o concessionário a uma multa de cem cruzados. Quem cortasse mais de seis toneladas receberia um castigo maior: pena de morte. A nova leia também estipulava regras de aproveitamento da floresta.Os colonos também não podiam transformar matas de pau-brasil em terrenos de cultivo. «Essa legislação garantiu a manutenção e a exploração sustentável das florestas de pau-brasil até 1875, quando entrou no mercado a anilina», escreveu o biológo Evaristo Eduardo de Miranda. «Ao contrário do que muitos pensam e propagam, a exploração racional de pau-brasil manteve boa parte da mata atlântica até ao final do século XIX e não foi a causa do seu desmatamento, facto muito posterior».
5) o contacto também matou milhões de europeus
Genocídio e extermínio, palavras que são sempre usadas para se falar do contacto dos portugueses com os índios, denotam acções com o propósito deliberado de matar um grupo de pessoas. Por mais cruéis que os portugueses e os seus aliados índios tenham sido durante as bandeiras e caçadas de escravos nos sertões, essas acções correspondem a uma pequena parte da enorme mortalidade de índios durante os primeiros séculos do Brasil. A grande maioria deles morreu por doenças que os portugueses trouxeram, sobretudo gripe, varíola e sarampo. O simples contágio criou epidemias que devastaram nações indígenas inteiras. É injusto responsabilizar os portugueses por essas mortes. As epidemias causadas pelo contacto de etnias foram muito comuns na História do Homem. Na verdade, quando chegaram ao Brasil, os portugueses pensavam que seriam eles a ficarem doentes. Era isso que acontecia aos navegadores no resto do mundo. Os habitantes da África e da Ásia eram muito mais resistentes a doenças do que os portugueses. Nesses lugares, os europeus ficavam de rastos diante de vírus e parasitas estranhos, para os quais não tinham defesa biológica. para piorar, depois de meses de alimentação precária nas caravelas, o seu sistema imunológico estava muito em baixo. Quando voltavam das viagens, novas doenças apareciam em Portugal.
Centenas de milhares de mortes devem ter sido causadas na Europa por males americanos. Ao chegarem à América espanhóis, franceses, portugueses e holandeses penaram com doenças novas e transmitiram-nas pelo mundo. O antropólogo Michael Crawford, director do laboratório do Kansas, noos EUA, cita alguns desses males: purupuru, bouba, sífilis venérea, doenças infecciosas causadas por treponemas, novas variações de tuberculose, doenças autoimunes e parasitas,muitos parasitas da pele e do intistino.
Mias verdades inconvenientes:O MITO DA LÍNGUA GERAL
«São Paulo fala português há menos de três séculos. Antes, o idioma mais falado no Brasil era a língua geral, uma mistura de dialectos indígenas. Só com a proibição do tupi pelo marquês de Pombal, no século XVIII, é que o português se tornou a língua predominante.»Esta história frequentemente repetida não deixa de ser interessante, mas está a perder adeptos. Quem primeiro a defendeu foi o historiador Sérgio Buarque de Holanda, no livro Raízes do Brasil, de 1936. De lá para cá, a autoridade desse intelectual valeu mais que evidências históricas. Sabe-se hoje que, nos arredores de São Paulo, o português era a língua mais usada não só em documentos históricos, mas também no comércio, nas conversas do dia a dia e nas cartas pessoais.
Apesar da grande influência indígena nos casamentos e nas alianças políticas, o idioma que venceu aquela mistura cultural foi o português. Aconteceu o mesmo na Europa invadida pelos romanos. Assim como falar latim era um sinal de distinção social entre os europeus conquistados, os índios e os mestiços esforçavam-se por falar português.
ESCRAVATURA
*O sonho dos escravos era ter escravos: assim que conseguiam economizar para comprara a alforraria, o próximo passo de muitas negras era adquirirem escravos para si próprias. Em liberdade, essas Chicas da Silva tinham muito mais tempo e ferramentas para ganhar dinheiro. Contando com escravos como mão de obra barata. algumas fizeram fortuna.Donas de escravos como qualquer outro senhor colonial, essas negras forras também praticavam os actos cruéis que marcaram a escravidão brasileira.
*Um terço da classe senhorial era "de cor". Isso acontecia na Bahia, em Pernambuco, etc.
Os negros eram uma parcela considerável dos proprietários de escravos.
* Ao contrário dos indivíduos do sul dos Estados Unidos, os brasileiros livres de cor não eram, definitivamente, um grupo isolado ou marginalizado, sem acesso aos recursos da economia aberta de mercado.
*Nas vilas da corrida ao ouro de Minas Gerais, nas fazendas de tabaco da Bahia, era comum africanos ou descendentes escravizarem.
* Os portugueses aprenderam com os africanos a comprara escravos:
As caravanas de comércio escravo existiam muitos séculos antes dos europeus atingirem a costa oeste do continente. Com a venda de escravos, alguns reinos africanos tornaram-se impérios, como o reino de Kano, actual Nigéria.
A escravidão em África era uma cultura tão estabelecida com tanta força que os camponeses pagavam impostos ao estado central usando escravos como moeda.
Para conseguir comprar ouro nessa região, os portugueses tiveram de arranjar escravos como moeda de troca. Estima-se que, entre 1500 e 1535, terão comprado cerca de 10 mil cativos no golfo do Benim apenas para os trocarem por ouro na própria África. Entraram em contacto com os costumes locais e tornaram-se esclavagistas.
As caravanas de comércio escravo existiam muitos séculos antes dos europeus atingirem a costa oeste do continente. Com a venda de escravos, alguns reinos africanos tornaram-se impérios, como o reino de Kano, actual Nigéria.
A escravidão em África era uma cultura tão estabelecida com tanta força que os camponeses pagavam impostos ao estado central usando escravos como moeda.
Para conseguir comprar ouro nessa região, os portugueses tiveram de arranjar escravos como moeda de troca. Estima-se que, entre 1500 e 1535, terão comprado cerca de 10 mil cativos no golfo do Benim apenas para os trocarem por ouro na própria África. Entraram em contacto com os costumes locais e tornaram-se esclavagistas.
O Brasil foi o penúltimo país da América depois de Cuba a abolir a escravidão e até mesmo o povo brasileiro custou a apoiar a abolição.
"A abolição da escravatura como se sabe, foi um dos factores a provocar o fim da monarquia no Brasil.
Por volta de 1830, o escravo José Francisco dos Santos conquistou a liberdade. Depois de anos de trabalho forlado na Bahia, viu-se livre da escravidão, provavelmente comprando a sua própria carta de alforraria ou recebendo-a de algum amigo rico. Estava enfim livre do sistema que o tirou de África quando jovem, o atirou para um navio imundo e o trouxe amarrado para uma terra estranha. José tinha uma profissão - tinha trabalhado a cortar e costurar tecidos, o que lhe valeu a alcunha de «Zé Alfaiate». No entanto, o ex-escravo decidiu dar outro rumo à sua vida: foi operar o mesmo comércio do qual fora vítima. Voltou a África e tornou-se traficante de escravos. Casou-se com uma das filhas de Francisco Félix de Souza, o maior vendedor de gente da África atlântica, e passou a mandar ouro, negros e azeite para vários portos da América e da Europa.
Talvez Zé Alfaiate tenha entrado para o tráfico por desejo de vingança, na tentativa de repetir com outras pessoas o que ele próprio sofreu. O mais provável, porém, é que visse no comércio de gente uma possibilidade normal e aceitável de ganhar dinheiro.
Havia muito tempo que o costume de atacar povos e inimigos e de vendê-las era comum em África. Com o tráfico pelo oceano Atlântico, as pilhagens a povos do interior, feitas para capturar escravos, aumentaram muito- assim os lucros dos reis, nobres e cidadãos comuns africanos que operavam a venda. Essa personalidade dupla e África diante do tráfico de escravos às vezes aparece no mesmo indivíduo, como é o caso de Zé Alfaiate. Ex-escravo e traficante, foi ao mesmo tempo vítima e carrasco da escravidão.
Não há motivo para os activistas do movimento negro fecharem os olhos aos escravos que se tornaram senhores. Hoje, ninguém deve ser responsabilizado pelo que os seus antepassados distantes fizeram há séculos. Além disso, na época em que eles viveram, ter escravos não era considerado errado: tratava-se de um costume tido como correcto pela lei e pela tradição.Para um brasileiro descendente de africanos, é muito mais gratificante (além de correcto) imaginar que os seus ancestrais talvez não tenham sido apenas vítimas que sofreram isoladas. Tratar os negros apenas como vítimas indefesas, como afirmou o historiador Manolo Florentino, «dificulta o processo de identificação social das nossas crianças com aquela figura que está sempre a ser maltratada, sempre faminta, maltrapilha». É uma pena que os historiadores comprometidos com a causa negra ou patrocinados por instituições estatais escondam essas personagens.
Declaração da Independência:
*Ninguém queria separar-se de Portugal
Até meados de 1822, meses antes de Dom Pedro tornar o país independente, ninguém ligava à separação do Brasil no reino português.Tal coisa não passava pela cabeça dos políticos, juízes, jornalistas, funcionários públicos, nem dos cidadãos comuns.
Outro motivo de discussão era o lugar em que o reino português deveria instalara a sua sede. Isso porque a ideia mais corrente da época era criar o Império Luso-Brasileiro, um reino unido em que Brasil e Portugal teriam governos independentes e o mesmo poder político.
A cisão do reino só aconteceu por causa da insistência dos parlamentares portugueses em manterem o Brasil num nível político mais baixo. Os brasileiros ainda tinham esperança em continuar como parte do reino e manter uma relação coma Europa. Com o passar do tempo, porém, a ideia de manter a reunião com Portugal foi esmorecendo porque as cortes portuguesas teimavam a reduzir o Brasil a colónia. O príncipe não teve alternativa senão fazer o que não queria: anunciar a Independência do Brasil
Elogio à monarquia:
Fomos o último país a abolir a escravidão, o último a proclamar a República. Até a Independência decepciona, já que foi proclamada pelo próprio príncipe do reino português no Brasil.
*A monarquia brasileira era mais republicana do que as repúblicas vizinhas
A famosa liberdade política do Império atingiu o ponto alto durante o reinado de Dom Pedro II. Os jornais públicos publicavam dia a dia ilustrações satíricas- como a de Dom Pedro II, sonolento, a ser atirado para fora do trono. Mesmo diante desses ataques o imperador colocava-se contra a censura.
Dom Pedro II era quase um rei absoluto mas raramente tomava decisões autoritárias. Achava desconfortável a posição de monarca - diversas vezes disse que preferia ser um presidente ou simplesmente um professor.
E a 16 de Novembro de 1889, horas depois de ser destituído do trono pelos republicanos, Dom Pedro II foi-se embora do Brasil, A liberdade política que o império possibilitou foi-se embora com ele . Pouco mais de um mês depois do início do novo regime, o marechal Deodoro da Fonseca instituiu a censura prévia. Uma junta de militares passou a avaliar os jornalistas que ameaçavam o novo regime. Os presos políticos e exilados, figuras que não existiam no Segundo Reinado, de repente, multiplicaram-se. Boa parte dos políticos, editores de jornais e cidadãos comuns tiveram logo saudades dos tempos reais.