(Livro: Impacto Zero: as aventuras de um cidadão comum que tenta salvar o planeta e aprende muito sobre si próprio e o nosso estilo de vida, de Colin Beaven)
Estamos em Janeiro de 2006 mas estão 17 graus lá fora (Nova Iorque), mas as pessoas andam a correr de calções. As pessoas à minha volta estão felizes, mas eu não estou. Pelo contrário, estou preocupado. Porém, o que realmente me deixava desolado, era não conseguir acreditar que o modo de vida que estava invariavelmente a destruir o planeta até nos deixava felizes. Uma coisa seria acordarmos na manhã seguinte a uma festa de arromba e constatarmos que tínhamos destruído a casa, mas ao menos podíamos dizer que nos divertíramos à brava. No entanto, se tivesse de generalizar, teria de dizer que, em média 6,5 milhões de pessoas que partilham este globo não são tão felizes como poderiam ser. Sem contar com as pessoas que têm acesso extremamente reduzido a alimentos e a água potável, muitas pessoas minhas conhecidas, em Nova Iorque e noutros cantos deste mundo de cultura consumista, não estavam felizes com as vidas pelas quais tinham lutado - as vidas que, supostamente, desejavam. Para além de muitos de nós esgotarmos anos a trabalhar para manter um estilo de vida que, na realidade, não gostamos estamos a começar a compreender (espero), que este mesmo modo de vida está a destruir o planeta.
Seria possível ter uma vida amiga do ambiente na nossa cultura moderna? O meu objectivo era ir o mais longe possível e tentar ao máximo não ter qualquer impacto sobre o ambiente. O meu fito era conseguir zero emissões de carbono, é verdade, mas também zero resíduos para o solo, zero poluição atmosférica, gastar zero recursos da terra, expelir zero toxinas para a água.
O egocentrismo versus altruísmo enquadra o debate sobre o ambiente, ou qualquer outro tipo de mudança social, de uma forma perigosa. Há quem defenda, e talvez com razão, que se opusermos a sobrevivência do planeta ao egoísmo humano, o planeta será sempre derrotado.
Entretanto, todo o modo de actuar da nossa civilização continua inexoravelmente a esgotar todos os recursos. O nosso sistema torna praticamente impossível conseguirmos as coisas que desejamos e de que necessitamos sem deixarmos atrás de nós um rasto de detritos e gases de efeito de estufa.
*Urge reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em pelo menos 80% até 2050 para impedirmos que o aquecimento global escape totalmente ao controlo. Ao invés de agirem, empresas como a Exxon recorrem a dissimuladas tácticas de relações públicas para desacreditarem as organizações que tentam alertar-nos. Entretanto, os políticos tentam «reposicionar o aquecimento global como uma teoria, ao invés de um facto».
*Um veleiro que zarpasse do Havai, rapidamente ficaria encalhado num gigantesco amontoado de resíduos plásticos flutuantes como dobro do tamanho dos Estados Unidos da América, redemoinhando sobre si mesmo em pleno Oceano Pacífico. Ou então, quem fosse pescar correria sérios riscos de regressar de mãos a abanaar de um dos 14 000 lagos do Canadá que já não suportam vida marinha, por causa da chuva ácida. Ou ainda, quem tentasse dar um passeio pelas florestas na esperança de avistar aves, encontraraia em vez disso um enorme buldôzer amarelo nos 13 milhões de hecatres de bosque que abatemos por todo o mundo, todos os anos, para produzir papel higiénicos e copos de papel descartáveis.
*Só serão necessárias cerca de 13 fraldas de pano para criar uma criança, se lavarmos duas vezes por semana. Por outro lado, a mesma criança, ao chegar aos 2 anos, teria gasto 4000 fraldas de plástico. Como é que bombear petróleo dos campos do Médio Oriente, expedi-lo para unidades fabris, digamos, na China para fabricar as fraldas de plástico, expedi-las para os EUA e depois enterrar essas 4000 fraldas cheias de trampa, não é pior que lavar 30 pedaços de pano 104 vezes?
*O lixo produzido pela minha família, constituído por embalagens de plástico descartáveis, faz parte de uma portentosa mixórdia social impregnada de molho de alho, hidratos de carbono bolorentos e outras substâncias petroquímicas que, ao fim de uns 20 minutos de utilização, acabarão em aterros sanitários e incineradores, para libertarem químicos para as águas que bebemos ou para o ar que respiramos.
*Há uma explicação para os sacos do lixo não serem transparentes e não permitirem ver o conteúdo. É o mesmo motivo por que eu e a minha espécie guardamos os restos mortais em urnas fechadas. Receamos aquilo que os nossos olhos possam ver. Agora que já pus o lixo no caixote, agora que o lixo já não está em minha casa, deixou de ser um problema na primeira pessoa. Passou a ser um problema de todos nós. Em conjunto, prejudicaremos os pulmões ao inalarmos as partículas diesel emitidas pelos camiões americanos ao viajarem literalmente milhões de km para transportarem o nosso desperdício. Em conjunto, partilharemos maiores probabilidades de cancro ao respirarmos as dioxinas produzidas pelos incineradores. Compreenderão que, agora que me livrei dos meus produtos descartáveis, a minha comodidade tornou-se um incómodo para toda a humanidade.
Cerca de 80% dos produtos que utilizamos destinam-se a ser utilizados uma só vez. Por muito trivial que um toalhete de papel possa parecer, deixa transparecer inúmeras escolhas individuais e culturais que adoptamos no quotidiano e por via dos quais estamos a esgotar os recursos do planeta e a mandá-los para aterros sanitários e incineradores, praticamente sem os utilizarmos.
*Na floresta tropical da Amazónia, abatemos cerca de 9 campos de futebol de árvores a cada minuto, isto equivale a 2000 árvores por minuto!
*Segundo o Worldwatch Institute, todos os anos, acumulamos entre 4 a 5 mil milhões de sacos de plástico que são utilizados apenas durante apenas alguns minutos e depois são deitados fora, saem de lojas e mercados em quantidades centenas de vezes superiores a qualquer outra mercadoria. São o bem de consumo mais omnipresente em todo o mundo e é também o produto descartável mais difundido, o que não é coincidência.
Reciclamos sacos de plástico a um ritmo inferiro a 1%, e os sacos descartáveis constituem aproximadamente 4 milhões de toneladas de resíduos municipais dos EUA em 2006. Os sacos de plástico envenenam o ar ao serem queimados nos incineradores, ou libertam substâncias químicas prejudiciais nos aterros sanitários durante centenas de anos. A incongruência é que estes sacos, criados no intuito de serem descartáveis, são feitos de um material que foi concebido para durar imenso tempo. Os sacos não são os únicos produtos descartáveis que contêm plástico: consideremos as lâminas de barbear, talheres, escovas de lavar os dentes, garrafas de água, copos para café, canetas, pentes e assim sucessivamente. Visto que o plástico é muito durável, todos estes objectos perduram durante centenas de anos.
Mil milhas ao largo da costa da Califórnia, em pleno Oceano Pacífico, existe uma amálgama de lixo à deriva com o dobro do tamanho dos EUA. Em pleno Oceano Pacífico, a mil milhas de distância do humano mais próximo, o plâncton, as medusas e os peixes são em menor número , numa proporção de 6 para 1, em relação aos sacos de plástico, garrafas de água e outros objectos de plástico descartáveis.
Só no Pacífico Norte, estima-se que 100 00 tartarugas marinhas e outros mamíferos, 1 milhão de aves marinhas e um nr incontável de peixes morram de fome todos os anos devido à obstrução dos tratos digestivos provocada pelo plástico. Entretanto, os produtos de plástico descartáveis à deriva que não provocam o sufocamento de animais marinhos decompõem-se lentamente com o sal e a luz solar até ficarem em suspensão na água. Os animais que se alimentam de plâncton devoram-nos, depois peixes maiores comem os mais pequenos, e adivinhem quem come os peixes maiores? Os restaurantes de sushi que preparam refeições para nós, adultos, e as fábricas de douradinhos que preparam as refeições das cantinas das escolas. Algo que tem início no 1º nível da cadeia alimentar, inevitavelmente acaba no último nível. No fim de contas, cada um de nós tem, no seu organismo, quantidades detectáveis de até uma centena de substâncias químicas de origem industrial de que nunca se tinha ouvido falar até há cerca de 50 anos. Muitos desses químicos são provenientes da produção e utilização da mesma porcaria de plástico descartável que enche os meus sacos.
Os sacos de plástico (e os de papel, que não são os melhores em termos ambientais) são algo pelo qual estamos dispostos a ameaçar o habitat ao nível do planeta do qual todos dependemos em termos de saúde, felicidade e segurança? Em jeito de balanço, se tivermos de escolher (e eu acho que temos mesmo de escolher), preferiríamos ter um planeta a abarrotar de sacos de plástico e outras porcarias de plástico descartáveis, ou ter tartarugas no mar e crianças sem substâncias químicas?
*A criação de gado para a criação de terras de pasto e (acreditem ou não) as emanações repletas de metano provenientes dos sistemas digestivos dos ruminantes contribuem para 18% dos gases com efeito de estufa de todo o mundo , mais que o sector dos transportes completo. A lista de outros problemas para os quais a criaçãoi de gado contribui substancialmente (desde a poulição dos lençóis freáticos à chuva àcida) é interminável. Depois há os peixes. Li um artigo da edição de Novembro de 2006 da revista Science que revelava que até 2048, os oceanos estariam improfícuos sem qualquer hipótese de recuperação, caso as tendências perdurassem. Continuaria a haver a peixe, porém, num vasto e praticamente vazio oceano, os machos teriam imensa dificuldade em encontrar fêmeas para procriarem e o sector da pesca não conseguiria recuperar. Segundo o relatório, 29% do sector pesqueiro já havia sucumbido. A boa notícia é que esta tendência ainda é reversível. Uma abordagem consiste em comer exclusivamente peixe e marisco certificado pelo Conselho de Protecção Marinha.