segunda-feira, 28 de novembro de 2022
O dia em que eu morri
Eu morri há um mês, mas só estou a escrever sobre a minha morte agora...era uma manhã normal de sexta-feira, dia 28 de Outubro de 2022, tinha acordado...tarde e desmotivada como sempre, e chamaste-me mãe, estavas sentada na beira da cama no teu quarto...vi que estavas mal mas como tinhas tantas crises e ficava sempre tudo bem achei que era só mais uma, pediste-me um iogurte nem conseguiste comer, eu tinha uma entrevista de emprego online dali a pouco e perguntei se a poderia fazer e se estavas bem, disseste que sim, querias que eu arranjasse trabalho, fechei a porta do quarto e fiz a maldita entrevista (que após mais uma em nada deu, não fiquei com o emprego)...entretanto o pai chega a casa, e como sempre, com a mágoa de te ver assim o seu comportamento traduziu-se em nervosismo, quase que como, chateado contigo por estares doente...eras uma doente cardíaca, mas sempre acompanhada, até no dia anterior te tinham feito análises e ido ao cardiologista...tinhas tido alta do hospital há pouco mais de uma semana...apesar de no dia anterior não teres conseguido comer...aparentava estar tudo controlado. O teu coração tinha melhorado substancialmente...disseste-me...disseram os médicos...mas haviam problemas que começaram a aparecer derivado à medicação que tomavas para a arritmia, especialmente o Cordoran, que como dizias "era uma bomba"...eu dizia para o parares de tomar mas dizias que era os médicos que mandavam tomar não havia alternativa...eu confiei nos médicos afinal não sei nada de medicina, apesar de um dos médicos como disseste ser contra a medicação...esse medicamento aliado a outros e outros problemas que tinhas deterioram-te os rins e o fígado...muito rápido...demasiado rápido...no entanto, acredito que os médicos tudo fizeram para te salvar, pois investiram 10 mil euros num pacemaker que durou meses e 25 mil euros num outro que apenas durou semanas...o pai chamou a saúde 24, e os bombeiros vieram buscar-te a casa porque nem conseguias descer as escadas para ir para as Urgências...estavas em hipoglicemia, 20, quando abaixo de 30 é coma, desconhecia, como resistente que és aguentavas-te, falavas, estavas consciente...ninguém sabe como, os bombeiros admiraram-se...no entanto o teu coração estava bom, e a tensão arterial e batimentos cardíacos também...achei mesmo que ias ficar bem, o meu medo é que o teu coração estivesse mal. Os bombeiros colocaram-te numa cadeira de rodas, pediste-me um robe rosa ao qual me abraço todas as noites a dormir pois foi a última roupa que usaste, e uns chinelos da Minie...que a minha irmã te deu, os bombeiros pediram para te colocar uma máscara e tú disseste que não era preciso, mas os bombeiros disseram que sim nos serviços de saúde tem de se usar, eu coloquei a máscara...à medida que a bombeira e bombeiro te levavam a descer as escadas...pedias desculpa pelo trabalho que estavas a dar...tão frágil, tão querida, tão pura...desci as escadas contigo, antes de entrares na ambulância despedi-me de ti com um abraço rápido...e disse-te " Vá até logo!"., e tú disseste "Até logo!" Tanto eu como tú sentíamos, pensávamos que iria correr tudo bem, senão a nossa despedida teria sido diferente...terias pedido para ligar à minha irmã, terias falado comigo como das outras vezes em que foste operada e dizias que não sabias se irias voltar do hospital...odiava quando dizias isso, e dizias isso tantas vezes, e voltavas sempre...desta vez não poderia ser diferente...não podia ser!
Quero acreditar que sim, e se há alguém que merece o Céu, és tú mãe.
terça-feira, 22 de novembro de 2022
O pior aniversário de sempre
O meu aniversário foi há 3 dias atrás e foi o pior aniversário de sempre...porque foi o primeiro aniversário em que a pessoa que me deu a vida não esteve presente...
Revelo-me ao Mundo não porque quero que saibam quem eu sou, até agora, nunca quis, mas porque quero que o Mundo saiba quem tú és mãe, e porque quero dar um rosto a estas palavras de sofrimento profundo, um sofrimento que apenas palavras não expressam, uma cara pelo LUTO que é existir sem o maior amor da minha vida.
Assim revelo-me ao mundo com duas selfies contigo mãe Maria Manuela Nunes que distam de exactamente um ano...o último aniversário contigo e o primeiro sem ti...no meu dia de anos só me levantei da cama para este momento...ir ver-te mesmo que enterrada por terra e rodeada de flores apodrecidas e frescas com vizinhos antigos e novos que não páram de chegar e novas covas cavadas e abertas à espera de depositar o próximo corpo. Estás a uns 2 metros abaixo de mim na foto da direita com a boca e os olhos colados de cola, mas imagino que ainda assim...linda...enquanto que na foto da esquerda estás ao pé de mim sorridente com esses olhos cinza cheios de vida, amor e alegria. E e eu, na foto da esquerda era uma pessoa feliz e bem disposta...e na da direita perdi toda a alegria de viver...