"Estas opções televisivas, que se agravaram nos últimos anos, em que a elite política-partidária ocupa, salvo algumas excepções, quase todo o espaço "comentarista" nos vários canais de televisão, evidenciam em parte, para além do nosso estrutural provincianismo e facilitismo, as debilidades da nossa democracia e o colete-de-forças com que se amarra o espírito crítico, a participação dos cidadãos na vida pública e, em última instância, se limita, de forma subtil, a própria liberdade de expressão, na sua diversidade. Ressalvando as dignas excepções, a sociedade portuguesa, desde 1976 até hoje, não conseguiu produzir personalidades, jornalistas de referência ou movimentos cívicos com representatividade social suficiente para inquietar, desassossegar e criticar, de fora, a acção dos partidos políticos quer no governo, quer na oposição. O resultado é este desastroso: a "opinião publicada" acabou nas mãos, quase exclusivamente, de quem nos governa ou de quem nos quer governar, o que leva ao predomínio de uma "visão única" sobre a nossa vivência democrática- a da elite político-partidária, assente nos partidos parlamentares, que, em regra, na sua reduzida diversidade, transformam a luta pelo poder na sua "concepção de sociedade".
Na passada, tratam os cidadãos como papalvos que só têm por função, no exercício dos seus direitos democráticos, rabiscar uma cruz de tantos em tantos anos, num boletim de voto. Tudo o resto é feito, entre eleições, nas suas costas e à sua custa."
Tomás Vasques, jornal i 1 de Abril