quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Portugal é um negócio ou uma democracia?
"Portugal é um negócio ou uma democracia? Para o Governo e seus satélites, Portugal é um negócio.
Pese embora o escândalo TSU, o confisco de mais um salário aos trabalhadores e a sua transferência para os patrões, o que de mais grave e irreversível está a acontecer diz respeito às privatizações e aos negócios internacionais que elas propiciam. O intermediário desses negócios chama-se António Borges, um agente opaco, como todos os agentes-sombra. Não é um intermediário neutro e muito menos um zelador dos interesses nacionais. É um agente da Goldman Sachs com passaporte português. O seu negócio principal é a venda de activos nacionais a preços de saldo, mas também está interessado em integrar a Monsanto a produção agrícola transgénica e a outras multinacionais os recursos naturais do país. Se tiver oportunidade, este homem causará imenso dano a Portugal.
Este é o primeiro perigo que os portugueses enfrentam. O segundo perigo é tentar neutralizar o primeiro através da demissão do actual Governo e da nomeação de um governo de salvação nacional liderado por um tecnocrata, tipo Papademus ou Monti. Os portugueses estão na rua depois do estado de choque em que mais uma dose de medidas de austeridade os mergulhou. Vem que essas medidas dão resultados opostos aos que proclamam e não oferecem outra alternativa senão mais medidas ainda mais gravosas.
O Governo, com a sua indescritível insensibilidade social, dividiu o seu bloco de apoio e perdeu o seu apoio e perdeu legitimidade perante os portugueses. O País pode em breve tornar-se ingovernável. Os portugueses estão numa situação de emergência que os pode colocar para além da divisão entre a esquerda e a direita, o que é preocupante. A tentação pode ser a de garantir a estabilidade a todo o custo, recorrendo a um governo de salvação nacional. Não funcionará, porque o novo Governo dará continuidade ao memorando e os problemas de fundo voltarão com a mesma intensidade.
[...]O próximo orçamento que, se contiver as medidas anunciadas é certamente inconstitucional. Compete ao Tribunal Constitucional (TC) fazer tal verificação perante uma solicitação de fiscalização preventiva. Se o TC se decidir pela inconstitucionalidade, Borges, Gaspar e os seus acólitos terão de prestar contas aos seus patrões internacionais.
[...]A solução pressupõe a desobediência democrática ao memorando da troika. A democracia portuguesa não sobreviverá ao cumprimento pleno dele. "
Boaventura de Sousa Santos, in Visão nº1020 de 20 a 26 de setembro
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