quinta-feira, 26 de julho de 2012

Milhões de milhões "offshores"




DINHEIRO EM PARAÍSOS FISCAIS EQUIVALE ÀS ECONOMIAS DOS EUA E JAPÃO JUNTAS!

Jornal Metro de Lisboa, 23 Julho 2011

Fortunas intocáveis
*mais ricos reuniam no fim de 2010, um bolo de 17 milhões de milhões de euros imunes a impostos
*estudo coloca China no topo da lista
*Menos de 100 mil pessoas em todo o mundo detêm quase oito mil milhões de euros de activos em paraísos fiacais.
*UBS, Credit Suisse e Goldman Sachs são os três bancos privados que manipulam a maior parte dos activos offshore.

Uma elite mundial de "super-ricos" acumulava, no fim de 2010, uma fortuuna de 17 milhões de milhões de euros escondida em paraísos fiscais (offshores) - estados ou regiões autónomas onde a lei facilita a aplicação de capitais estrangeiros, com tributação baixa ou nula.
A conclusão foi publicada pelo ex-economista chefe da consultora financeira norte-americana McKinsey, James Henry, no estudo "The Price of Offshore Revisited", que foi encomendado pela Tax Justice Network. O valor total é equivalente ao tamanho ads economias dos estados Unidos e Japão juntas. A China lidera a lista com 900 milhões de milhões de euros depositados em offshores.
" A perda de receitas é (...) grande o suficiente para fazer uma diferença significativa para as finanças de muitos países", afirmou o economista, citado pela BBC. Contudo, Henry defende que a quantificação deste "buraco negro" na economia mundial é "conservadora" - o bolo poderá atingir os 26,3 milhões de milhões de euros, arrisca.
O relatório, que destaca oo impacto sobre as economias dos 139 países mais desenvolvidos da movimentação de dinheiro enviado a paraisos fiscais, cruzou dados do Banco de Compensações Internacionais, do fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e dos governos nacionais.
Os dados dizem respeito a recursos financeiros depositados em contas bancárias e de investimento; de fora ficam activos como propriedades móveis e imóveis.

Crónica de opinião"uma linha a mais"  do Público de 26 de Julho de 2011 de Miguel Gaspar

A sociedade atópica e o fim do futuro
"Se nos paraísos fiscais existe o equivalente ao PNB dos EUA e do Japão, então onde está a crise?
O que é uma crise? Ao que me dizem, é quando vivemos acima das nossas possibilidades e passamos a sofrer dores de consumo. O remédio recomendado é austeridade, uma espécie de privação induzida que funciona também como uma punição. Mais do que económica ou financeira, a crise é moral.
Crise e castigo. será possível resolvê-la castigando quem não tem culpa e mantendo intacto o poder de um sistema financeiro imoral que provocou a crise? 
Um estudo publicado esta semana no diário britânico Guradian revela que nos paraísos fiscais como Gibraltar ou as ilhas Caimão, estarão escondidos mais de 17 triliões de euros, o equivalente à soma do produto nacional bruto dos Estados Unidos e do Japão. Ao pé destes números, os líderes da zona euro que andam a pedir licença à senhora Merkel para gastar umas centenas de milhares de milhões para salvar a Espanha ou a Itália da derrocada parecem uns pobres a pedir. O que são governos democráticos a estender a mão para poderem pagar salários à função pública, quando, de acordo com números daquele estudo, quase nove triliões de euros estão nas maãos de 92 mil pessoas?
A globalização transformou o contracto social das sociedades ocidentais. Transferiu as indústrias para países emergentes, tornando os produtos mais baratos, e substitui a redistribuição de riqueza como instrumento de equilíbrio social pela expansão ilimitada do crédito. Quando a roda parou de andar, os bancos faliram, os Estados endividaram-se e os cidadãos passarm a ser castigados. Ao mesmo tempo, como mostra o estudo da Tax justice Network que é citado pelo Guardian, com a globalização a riqueza passou a estar fora do alcance dos Estados. Os motivos que levaram à crise que começa com a falência do Lehman- Brothers, há quase quatro anos, permanecem intocados. Não é, portanto, de estranhar que os líderes políticos por toda a parte nos stejam a falar na "inevitabilidade" das políticas. Na verdade, eles estão a dizer-nos que não há nenhuma política que eles consigam aplicar. Portugal ou a Europa não  são liderados. São dirigidos por mecãnicos do défice que andam á volta do motor da economia a injectar óleo ou a apertar as válvulas. Mas nunca nenhum deles tem realmente ao acesso do elemento do navio. 
As sociedades ocidentais nasceram e viveram a partir da capacidade de potenciar coisas que não existiam. O capitalismo reinventou a riqueza através do dinheiro virtual, ou seja , indexando o valor do dinheiro ao tempo e tornando possível a "alavacancagem" da economia. Ao mesmo tempo, as sociedades ocidentais substituíramos sistemas tradicionais por outra visão da sociedade, a modernidade. Inventámo-nos politicamente sob a forma de utopias, modelos intangíveis de sociedade que se tornaram referências para construirmos sociedades reais mais justas e prósperas. 
[...]Hoje, há muita gente, em particular á esquerda, que acredita que vivemos numa sociedade distópica. Não é verdade. Vivemos, em primeiro lugar, numa sociedade que perdeu a capacidade de se projectar no futuro, excepto na forma contabilística, através de perguntas como: "quando regressaremos aos mercados?", "quando voltaremos a cerscer?". É uma consequência da anulação do político face ao económico. . Tornámo-nos, portanto, atópicos: uma sociedade algures entre a falta de utopia e que, em vez da violência distópica, está mergulhada numa espécie de toropor artificial sem sentido.  Um parque de estacioanmento da história ao qual chegámos por acção do vazio e da inércia. A atopia é o que está fora do lugar, por opisção a utopia, que é o que não tem lugar [...].
Recuperando um poema de Ricardo Reis, diríamos que pouco falta para o fim do futuro. Por falta de uma ideia nova que reponha o mundo em movimento, antes que a entropia autofágica da chamada crise dê cabe de tudo- sendo que essa é, apesar de tudo, a hipótese mais provável."
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