sábado, 3 de dezembro de 2011

25 anos na União Europeia



Fui a um congresso do Instituto Europeu no Auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa nos dias 28/29/30 de Novembro de 2011.
O dia mais interessante e aquele que fui quase todo o dia foi o 1º mas tenho muita pena de não ter ido aos dias seguintes.. não tenho filiais políticas (nunca sei em quem votar em boa verdade, ainda mais agora que me convenci realmente da palhaçada que é a política) nem tenho algum interesse transcendente em saber destas coisas...acho que foi só por curiosidade enquanto cidadã.
É tão bom viver em Portugal, um país livre (embora imundo de más políticas) que convoca congressos gratuitos para discutir interesses nacionais, ainda por cima davam-nos um livro grátis e podíamos fazer perguntas aos oradores. E foram convocados os mais diversos oradores, desde ex-políticos, eurodeputados, comentadores políticos,  jornalistas, professores universitários, economistas, advogados, juízes e até o secretário- geral da CGTP-IN Manuel Carvalho da Silva que infelizmente não tive oportunidade de ouvir.
O que faltou? sem dúvida mais gente interessada na sala.
Com tanta gente ilustre na sala julguei que o ambiente viesse a ser um pouco opressivo, mas nada disso, eram conversas informais mas elaboradas e até havia uma altura em que o público podia fazer perguntas.

Aqui estão algumas das coisas que aprendi no congresso:

-ao longo destes 25 anos de adesão destruímos o nosso tecido produtivo (por imposição europeia, falta dizer).
-em 15 anos sofremos uma valorização cambial em mais de 35%.
-Portugal não cresceu nem 1% ano ano desde que entrou no Euro (terei ouvido bem? eu acho que ouvi isto mas custa crer que seja verdade).
- Estamos na pior situação económica desde a 2ª Guerra Mundial.
-esta semana a Alemanha não conseguiu "lançar" a sua dívida nos mercados (40% não teve comprador)-isto também foi notícia, mas eu ainda não percebi o jogo da roleta que é vender e comprar dívidas aos mercados...
-60% das exportações alemãs destinam-se a países da UE
Opiniões:
-segundo Joana Amaral Dias, comentadora política e professora no ISPA:
"Os mesmos bancos que foram salvos pelos Estados com dinheiros públicos agora atacam a dívida soberana desses mesmos Estados. E agora vêm dizer que vivemos este tempo todo à custa das nossas possibilidades e que o direito público à educação e à saúdeé um luxo e é a extravagância quel nos levou à dívida".
"Houve uma deslocalização de Bruxelas para Berlim".
"O Euro é disfuncional e penalizador de economias periféricas".
"Ou a Alemanha e a França regressam ao marco e ao franco ou então não podem continuar a crescer à custa dos países periféricos".- eu partilho inteiramente desta opinião

-Respondendo ao tópico: "a integração europeia de Portugal valeu a pena?", Rui Vilar, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian disse:
"Não investimos em portos, política marítima, caminhos de ferro. Fomentámos o recurso ao transporte individual construindo imensas auto-estradas. Sem investir em caminhos de ferro e portos enão fomentámos as exportações".
"A política redistributiva da UE não era de generosidade asséptica(?), havia exigências e contra-partidas".
-Manuel Villaverde Cabral, investigador disse:
"o sistema político tem sido corrupto e genericamente incompetente com o mesmo eleitorado comprado".
"Encostámo-nos à beira dos subsídios".
"Tivémos esta oportunidade extraordinária e desperdiçamo-la".
"Somos dos países com mais auto-estradas na Europa" - sei que não tem nada a ver mas a propósito na Visão, na notícia: Germanofobia, um luso-alemão guia turístico em Portugal, dizia inclusivamente que os alemães ao verem as infra-estruturas rodoviárias portuguesas diziam: "fomos nós que pagámos isto tudo!"

-Mas a melhor citação para mim foi esta, do Sr Diogo Freitas do Amaral, Sr de vasto currículo na esfera política,ex- ministro dos negócios estrangeiros, ex-primeiro-ministro (após morte de Sá Carneiro), ex-ministro da defesa nacional, deputado da AR e Presidente da Assembleia- Geral das Nações Unidas e actualmente professor universitário:
"Andam para aí a dizer, não se sabe bem quem, que os políticos e os partidos estão desacreditados...desacreditados como? se o sr Cavaco Silva e Mário Soares ganharam eleições durante anos, consecutivamente?". - boa pergunta para fazer aos portugueses!!! Até aqui concordei, se estivessemos a ser irónicos, mas depois o Sr acrescenta: "quem anda para aí a fazer essa mensagem circular é quem quer que volte a ditadura!". - eu esta parte, sinceramente, não percebi, em todo o caso claro que um político por excelência, ainda para mais um veterano que passou toda a vida a fazer política, não podia usar ironia com os seus compadres políticos, também eles persistentes e vencedores consecutivos das eleições. Mas quem anda a fazer passar a mensagem que os políticos estão descredibilizados? QUEM? Eu faço a minha parte, mas não sou só eu, são inúmeros bloggers pela blogosfera, são as pessoas a falar nos transportes públicos, no cabeleireiro, no barbeiro, no café, no jardim, são alguns comentadores políticos, são os jornais, são as revistas...e são os próprios políticos que de descredibilizam a eles próprios especialmente quando vão contra o eleitorado adoptado uma postura diferente daquela pela qual foi eleito (tipo o Passos Coelho que dizia que cortar subsídios de férias e natal era um disparate e depois cortou-os, medida essa que nem estava no acordo da troika...). Espero ter-lhe esclarecido quanto a quem anda a espalhar tão vil mensagem de que os políticos estão descredibilizados Sr. Freitas do Amaral...quanto aos votos, também não entendo, mas isso deve ser por causa que a maior parte das pessoas nem vota...tenho esperança que seja isso...
Quanto a políticos que apregoam credibilidade lembrei-me de um compadre do PSD...

Foi-nos fornecido também, uma crítica escrita por Eduardo Paz Ferreira, Professor da Faculdade de Direito da UL.
 A Terra do Leite e do Mel
"Víamos, a Europa como um pequeno canto do paraíso, imagem mais fácil de aceitar naquele período do que nos dias que correm. Nas Comunidades Europeias encontrávamos o encerramento do período das trevas, consubstanciado no salazarento orgulhosamente sós...acreditámos num espaço de solidariedade e entreajuda mútua que contribuiria para um progresso de todos os povos reunidos...mantendo a nossa soberania e integrando-nos numa união de Estados.
Nas Comunidades Europeias antevíamos a terra do leite e do mel. Do deserto passaríamos para a terra donde jorrava o leite e o mel, sob a mais prosaica forma de fundos comunitários que tinham começado a fluir e a criar condições para um desenvolvimento económico-social nunca antes experimentado.
...Fizeram utilizações fraudulentas dos fundos comunitários e neles viram uma ocasião para melhorra o bem estar individual e não o colectivo...atordoados, reconhecemos: nossa culpa.
...Garantiram-nos que a crise não era do Euro, mas apenas de uns tantos países mal comportados...as dificuldades antes experimentadas plea Grécia, pela Irlanda e por Portugal se estenderam a Itália, à Espanha e, por fim até à própria Alemanha, o clamor começou a ser geral.
Que querem e que pretendem, então, aqueles que pedem e reclamam: a dissolução do Império?alguns seguramente que sim, mas a vasta maioria quer recuperar a nossa voz, reafirmar as bases das sociedades democráticas...um novo pacto fundador de aliança entre os povos da Europa.
...a revisão dos tratados, mais uma vez irá tentar fazer uma alteração que não leva em conta a voz dos cidadãos europeus...teima-se em tratar de tudo em circuito fechado, sem participação dos cidadãos.
A maior integração para que se pretende caminhar parece estar apenas focalizada na garantia de controlo dos países em dificuldades, obrigando-os, de forma ainda mais inequívoca, a políticas de austeridade e empobrecimento."

Cita-se ainda a frase de Jacques Ruef: " a Europa far-se-á pela moeda ou não se fará".

Foi ainda feita uma sondagem que revelou uma população informada e preocupada, maioritariamente com convicção de que devemos defender a nossa manutenção na União Europeia e no euro, ao mesmo tempo que lutamos por novas e melhores soluções. A maioria diz-se sentir-se europeia (70%) e sente que foi bom Portugal ter aderido à UE (51%) no entanto não concorda com as medidas de austeridade exigidas pela UE (53%) e que os poderes da UE não são os adequados para lidar com a crise (54%).
Quanto à questão: Portugal deverá continuar no euro? 74% dizem que sim e apenas 20% dizem que não.

Sem dúvida que os portugueses querem ser parte integrante da Europa...mas querem uma Europa diferente.
E já nos avisaram quem sai do Euro sai da União Europeia!

Numa revista Visão de Novembro, no entanto, a eurodeputada Ana Gomes fez uma declaração pessimista, derrotista e aterrorizadora dos recentes acontecimentos:

"Já não estamos à beira do precipício, estamos em queda livre. Os portugueses e os europeus que se preparem para o pior: uma corrida aos bancos, com o cortejo de horrores que isso implica, incluindo o perigo de guerra"

Eu pessoalmente acho que nesta altura precisávamos de tudo menos de maus agouros e não dou muito crédito a esta citação, embora a Sr. Merkell já tenha falado na possibilidade de uma guerra aquando da possível queda do projecto europeu (ainda não percebi se foi um aviso/ ameaça ou desabafo...).

Mais citações:


"Se a zona Euro sucumbir, será a terceira vez num século que a Europa se suicida, com a Alemanha no posto de comando" Viriato Marques, Visão (fim de Dezembro)
"Portugal já não é um Estado soberano e sem soberania perde-se a liberdade. Mais: vamos perder ainda mais liberdade porque vamos empobrecer. Com a liberdade perde-se mais do que um direito, perdem-se forças....estamos a perder forças porque estamos a perder soberania, porque somos menos portugueses do que éramos sem ser mais europeus". José Gil em "O Impossível Estado Europeu", Visão (fim de Dezembro)



Resta-nos a esperança que este sonho europeu não se tenha transformado num pesadelo.