quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

China não quer comprar a Europa, mas já tem 416 mil milhões da sua dívida


Jornal i de 14- Fevereiro-2012
texto: Sérgio Soares

"A pujança chinesa é cada vez mais evidente. Pequim já detém 416 mil milhões de euros de dívida soberana do velho continente, mas garante não "comprar" a Europa.

Números:
*1,7 mil milhões foi quanto a chinesa Geely pagou á Ford pela Volvo, a marca sueca.
*2,7 mil milhões pagou a three Gorges pelos 21,35% do capital do EDP.
*287,1 milhões de euros foi o preço de 25% da REN pago pela chinesa Sate Grid.
*3,6 mil milhões custou a empresa brasileira da Galp aos chineses da Sinopec.
*600 milhões de euros pagou uma companhia estatal chinesa pela Thames Water.
*324 milhões vai pagar o fabricante chinês de máquinas pela alemã Putzmeister.
*444 mil milhões foi o valor do comércio China/UE em 2011, mais de 18,3% que em 2010.
*1º União Europeia tornou-se o primeiro parceiro comercial da China.

No entanto os negócios da China na Europa não têm reciprocidade comercial e os grupos europeus queixam-se de condições e restrições impostas pelas autoridades chinesas que barram o acesso a um mercado gigantesco.

"Pequim interdita o acesso ao seu mercado público ou condiciona a participação isolada das empresas europeias. A Câmara de Comércio Europeia na China (EUCCC) reuniu uma longa lista de bloqueios impostos por Pequim à actividade das empresas estrangeiras para ilustrar a postura do gigante asiático, que tem acesso ilimitado ao mercado europeu mas não adopta um comportamento recíproco.
Quando o construtor automóvel chinês Geely comprou a sueca Volvo em 2010, tornou-se evidente que a China se tornaria um grande parceiro da indústria na Europa. Porém,as empresas europeias que produzem na China franzem o sobrolho porque o grande mercado interno chinês lhes é vedado. O mercado automóvel está aberto aos estrangeiros, mas apenas na condição de se associarem a um parceiro local - que quase sempre tem a última palavra na sociedade. O mesmo se aplica à banca, à indústria química e às telecomunicações, apesar destes sectores estarem abertos aos chineses na Europa.
A China não está a violar nenhuma lei  internacional ao criar obstáculos aos empresários europeus, simplesmente porque a questão da reciprocidade foi excluída do tratado de adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC) que assinou em 2011.
A ausência de reciprocidade da China com os seus parceiros da União Europeia tornou-se gritante com a recente entrada de empresas estatais chinesas em empresas estratégicas europeias, nomeadamente na EDP, na REN e na inglesa Thames Water.
Em Dezembro de 2011, o governo português decidiu alienar 21,35% da posição estatal na EDP por cerca de 2,7 mil milhões de euros. Já quanto à EDP alienou à chinesa State Gride 25% do capital por 287,15 milhões de euros. Deste modo, o Estado chinês passou a dominar o sector da energia em Portugal.
Por outro lado, a Galp vendeu 30% da sua empresa brasileira aos chineses da Sinopec
[..]Quanto à Thames Water, a empresa inglesa também foi adquirida por uma companhia chinesa, por 600 milhões de euros.
Apesar destes bons negócios, Pequim não quer ouvir falar em reciprocidade.
[..]o maior fabricante chinês de máquinas para construção civil, a Samy Industry Co. Ltd, pretendia comprar uma grande empresa alemã do sector, a Putzmeister, por 324 milhões de euros. A Alemanha é o maior parceiro comercial da China na UE.
A China que se tornou em 2009 a primeira potência exportadora do mundo, ultrapassando a Alemanha é "a fábrica do mundo", mas como também se diz, as máquinas dessa fábrica são, em muitos casos, alemãs."

"Atribui-se a Lenine a frase: "O capitalismo há-de vender-nos a corda com que o havemos de enforcar". A profecia ainda não se cumpriu. Mas se tiver a mesma ambição, a China ainda pode vir a fazê-lo."

Dá que pensar e temer...

Mais:
*chineses compram vindimas em França [click here bbc]