Trechos de um livro super interessante de um jornalista espanhol farto de sofrer com os reveses da economia António Banõs Boncompain: "A Economia não existe"
"[..]o ruído constante dos números parece-nos cada vez mais longíquo e estranho...Confundimos as vozes dos economistas com um sereno murmúrio aquático. O seu idioma, ainda que pareça familiar, é-nos initeligível e absurdo. Invade-nos uma calma serena...a nossa mente sobrevoa o nosso corpo de homo economicus que, inerte, esforçando e enfermo, continua preso ao trabalho, ao banco e à angústia...já não percebo nada de nada e não me importo...agora vejo-o: a economia não existe e, ainda que existisse, não tem razão.
[..]A economia reduz a biodiversidade das culturas. A economia reduz todas as possibilidades a uma só, resume todos os anseios a incentivos, todos os sonhos à categoria de previsões. A economia é a forma mais temível e eficaz de provocar a extinção de diversas formas de vida. Em qualquer lugar onde exista economia não se pode viver sem obedecer às suas regras. A sua aplicação enquanto doutrina desvaloriza as aspirações humanas...dificulta a imaginação, doma a alegria...a economia converte o diferente em comum; transforma o sagrado, o excepcional em banal.A economia em resumo significa pobreza.
[..]Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank, afirmou no canal Bloomerang, a 17 de Março de 2008: "Já não acredito na capacidade de auto-correcção dos mercados". Este acto de apostasia é só mais uma demonstração de que a economia é uma crença mais ou menos generalizada, e não um conhecimento positivo. Não há nenhum homem da ciência que acorde da sesta e afirme "deixei de acreditar na segunda lei da termodinâmica" ou "deixei de ter fé na evolução". Se a economia é uma ciência, as suas crenças devem poder ser demonstradas. Nas leis científicas não se acredita: ou se cumprem ou não se cumprem. Na ciência não existe liberdade de culto."
[..]Em geral, a economia não passa de uma pura personificação: "Os mercados punem e a economia precisa de ajuda urgente para seguir em frente" (Ben Bernanke, presidente da REserva Federal, 16-1-2008). À semelhança dos deuses antigos, os poderes do panteão económico adoptam formas antropomórficas para que os fiéis possam entender melhor os seus movimentos e intenções. Os mercados, por exemplo, possuem uma capacidade surpreendente de auto-consciência que lhes permite julgar, castigar, premiar e expulsar pessoas e empresas. Muitos autores, de James Frazer a Jacques Lacan, identificam uma relação clara entre o pensamento mágico e o uso de metonímias[..] A economia é um jogo de metáforas que, estruturadas sob a forma de conto, formam uma mitologia. Tão antigo e tão eficaz: "Os mercados internacionais transformaram-se num monstro que necessita ser devolvido ao seu covil", declarou Helmut Kohl à revista Stern a 15 de Março de 2008[..]Os mercados possuem a capacidade de se converter em monstros, independentemente de qualquer vontade humana. Em economia, segundo Kohl, o máximo que cada um pode fazer é acalmar a ira dos mercados com oferendas.
A economia é uma força demoníaca, telúrica. Desconhecemos o seu objectivo final, mas tal como Dionísio, pode levar os homens à loucura ou à riqueza com a mesma facilidade.
[..]Temos então forças obscuras e palavras. Apenas palavras. A linguagem é o sistema...O sistema perpetua-se não (não só) com dinheiro, juízes e polícia. Sãos as palavras, os conceitos, aquilo que o torna invencível. E no núcleo desses conceitos, está o da economia como ciência, como filha cruel da razão.
[..]Não passam de palavras. A economia não existe no mundo. Os planetas não se regem por interesses. As formigas não se baseiam na Euribor. As árvores não crescem de acordo com o PIB. MAis de 30 000 anos de uma cultura sem economia nos contemplam, por oposição aos três últimos séculos onde imperou o reino desta lúgubre ciência.
[..]Ignorância e sabedoria partilham silêncios neste reino inexplicável.
[..] Na economia, como em qualquer outra religião, não se admitem dissidências. Tudo é pura literalidade e, ao mesmo tempo, pura metáfora.
Na nossa civilização, é admitida a liberdade de culto, mas não se admite que alguém não acredite na economia[..]Torna-se praticamente impossível encontrar um único indivíduo que não acredite, de algum modo, no poder salvador do dinheiro. Na bondade objectiva da riqueza ou da prosperidade. Na força iniludível do desenvolvimento. Poucos são aqueles que não se aterrorizam quando os sumo-sacerdotes nos ameaçam com uma recessão.
[..]O homem submetido ao culto da economia apresenta, perante as catástrofes e alterações num sistema, a mesma atitude que qualquer crente de um antigo culto. As crises constituem castigos naturais, calamidades provocadas pelos nossos pecados (em geral a preguiça e a avareza). Do desagrado dos deuses, como é óbvio, nunca tem culpa o sacerdote, tal como os economistas não são responsáveis pelo estado da economia[..] as previsões dos economistas têm como objectivo falhar sempre, pois se acertassem permanentemente ninguém se arruinaria e ninguém ficaria rico, empurrando desse modo o culto à apostasia e ao desastre[..] é do domínio público que a crise constitui uma máquina de redistribuição de fortunas magnífica à qual nenhum capitalista alguma vez renunciará...as crises económicas não são terramotos. Constituem um cenário criado (por vezes provocado e sempre induzido) por pessoas. Em geral, não muitas. Uns milhares, no máximo. Em qualquer dos casos, todas elas possuidoras de número de telefone, pelo que poderiam ser contactadas de modo a lhes serem pedidas responsabilidades...o que na verdade se passa é que a teatralização da crise exige que esta se equipare a um fenómeno inevitável e surpreendente.
[...]A palavra crise vem do grego vem do grego krísis, que originalmente significa decisão, escolha juízo.
"A economia não é uma ciência. O facto de usar uma linguagem matemática não nos deve impressionar...a sua capacidade de previsão é patética, e o abuso que faz da indução, para além de revelar fraqueza, é suspeito...se fosse uma ciência, a economia seria a ciência do logo se vê."
"A economia substitui a teologia enquanto ciência auxiliar do poder...não se passou de mais uma afronta desse vasto processo de desencantamento do mundo...a perda do sentido mágico da existência."
A Confiança
"[..] A capacidade de manipulação física do sistema económico é realmente surpreendente, e contudo, concluímos que o o mastodôntico sistema globalizado entra em colapso perante a ausência de uma pequena e velha virtude imaterial: a confiança.
Os homens abastados de Rolex, Jaguar, iates e castelos dão por si bloqueados, paralisados pelo fantasma subtil da desconfiança. Os Empreendedores, assim mesmo, com maiúscula, essa raça titânica que nos fornece empregos, riqueza e progresso, abandonam o seu mister tão prometedor assim que perdem a companhia da modesta e silenciosa confiança. Num mundo onde tudo tem, e deve ter, um preço, os poderosos do mundo mendigam-nos a única coisa que ainda é gratuita: a confiança...pois deixar de ter fé neles é o primeiro passo para que estes deixem de existir"
Ler:
A Economia é Anti-Económica
Citações de Economia
Crise e Especulação
Capitalismo
Lições de Economês
Sátira económica: seis chineses e um americano
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