terça-feira, 15 de maio de 2012

Lições de Economês





Troika: palavra russa que significa uma carruagem ou "grande trenó" puxado por três cavalos. Na crise do euro a carruagem dos pacotes de assistência financeira é puxado a três: Banco Central Europeu (BCE),Fundo Monetário Internacional (FMI) e Comissão Europeia (CE). A troika empresta dinheiro e em troca pede dieta forçada e reformas estruturais. Apesar da má fama, o FMI é o cavalo bom - os outros dois são mais duros.
FMI=Fundo Monetário Internacional: O FMI é o "equivalente dos tipos que nos vêm partir as pernas em nome dos credores", explica o antropólogo David Graeber, no livro "Debt". O FMI é o fundo para o qual contribuem vários países (EUA lideram) e que empresta dinheiro e receitas económicas durasa países que perdem acesso ao financiamento. A preocupação principal é assegurar que o país paga aos seus credores (e ao FMI que nunca ficou a arder num empréstimo). Para isso o FMI dietas orçamentais e reformas duras para relançar o crescimento [???]. Nos dias que correm o FMI suavizou a receita - é o membro com a abordagem mais flexível entre os que compõem a troika.
Austeridade: severidade e rigor são sinónimos deste palavrão cada vez mais em voga. Em economês significa contenção nos gastos do estado, das famílias e empresas.
Memorando de Entendimento (MoU): a sigla MoU dá o nome ao "contrato" assinado entre as autoridades portuguesas e a troika. Nele estão os compromissos que Portugal assume em troca do dinheiro que recebe. O cumprimento é avaliado de 3 em 3 meses. Quando o governo decide ser mais duro do que as medidas do MoU diz-se que "está a ir além da troika".
Mercados: Mercados da dívida é composto pelo primário (em que quem pede emprestado é um país ou empresa e pede só a investidores institucionais como bancos e fundos) e o secundário (no qual todos podem comprar e vender obrigações emitidas no primário). Se todos venderam porque desconfiam do devedor, os juros sobem para níveis insustentáveis. Foi o que aconteceu a Portugal. por isso saiu dos mercados, para os braços da troika. O objectivo é voltar.
Leilões de dívida: mecanismo usado pelo Estado para se financiar. Os leilões são virtuais, têm data e hora marcada e demoram minutos. De um lado está quem pede emprestado (em determinados prazos de pagamento), do outro quem empresta (bancos, fundos de investimento). portugal só faz leilões para dívidas a pagar a curto prazo (até 11 meses) - nas restantes está fora dos mercados.
Juros da dívida (Yields): Há três anos Portugal financiava-se quase ao mesmo preço que a sólida Alemanha. Os juros da dívida englobem duas coisas distintas: os juros fixos a pagar pela dívida e o desconto feito aos credores (emprestam 90 mas recebem 100 de volta, mais juros). os de Portugal estão em níveis incomportáveis - por isso foi preciso sair dos mercados e pedir assistência à troika.
Reestruturar: Eufemismo para não pagar uma dívida na totalidade. Há várias formas de o fazer: aumentar o prazo de pagamento, diminuir juros ou eliminar juros, cortar simplesmente o valor da dívida, tudo com ou sem acordo dos credores.
Eurobond: Título de dívida que seria emitido com a garantia de vários países, não foi aprovado mas se fosse os países do euro pediriam emprestado em conjunto e depois o dinheiro seria canalizado para quem precisasse dos países mais ricos pagariam mais juros e os mais pobres menos.
Agências de Rating: Empresas privadas que atribuem notas (rating) a quem pede emprestado nos mercados de dívida, sejam países ou empresas. As maiores - as três irmãs - são por esta ordem as norte-americanas Standard&Poors, Moody's e Fitch. São alvo de escassa supervisão e são muitas criticadas por negligência  antes da crise de 2008 e por zelo depois da crise de 2008 (nas notas dadas a devedores da zona euro).
Lixo: lugar onde repousa a reputação de Portugal como devedor. tradução directa do termo "junk" dos mercados financeiros para classificar devedores (ou empréstimos) cuja probabilidade de incumprimento é considerável (acima de 15%). Quem decide que a reputação vale lixo são as agências de rating.
PIGS: sigla pejorativa forjada na linguagem darwiniana dos mercados para designar o grupo de economias mais fracas da zona euro: Portugal, Itália, Grécia e espanha. Com o colapso irlandês o "I" passou a ser a Irlanda (h´ainda os PIIGS).
Merkozy: Frankenstein político - 75% Merkel e 25% Sarkozy, juntos tomaram decisões na crise do euro seguidas pelo resto do rebanho. [Esperemos que a era Merklande (Merkel+Hollande) seja diferente...e que Merkel desapareça deste cenário brevemente].
Desalavancagem: é o acto de os bancos reduzirem o peso que os empréstimos têm nos seus recursos. A ideia é reduzir o risco dos bancos, aumentando recursos ou cortando no crédito. Menos vilipendiada que a prima direita "austeridade", "desalavancagem" tem um efeito potencial devastador para a economia.
Spreads: Não são os do empréstimo à habitação mas a lógica é a mesma - o spread é a diferença entre a taxa de juro praticada e uma taxa de referência. No caso das casas a referência é a Euribor. Para os países do Euro a referência é a Alemanha, o país mais sólido. Quanto maior o spread (diferença) entre juros da dívida pública de Portugal e Alemanha, mais negativa é a percepção dos mercados sobre o risco de Portugal.
PEC (I, II, III, IV):é sigla de Programa de Estabilidade e Crescimento usada aquando o governo de Sócrates, o governo actual chama-lhe Documento de Estratégia Orçamental (DEO) ao PEC, uma finta para desdramatizar a carga pejorativa sem mudar a austeridade.
Taxa Social Única (TSU): Contribuição dos empregadores (23,75% sobre o salário) e dos trabalhadores (11%) para a Segurança Social.
CDS: são seguros de crédito (credit default swaps) contra risco de incumprimento da dívida. Quando o preço dos CDS sobe - como aconteceu aos portugueses - é mau sinal sobre a qualidade da dívida que estão a segurar.Mas há mais. Se alguém comprar um CDS está a contribuir para aumentar o valor do seu CDS - até Novembro podia fazer isto sem sequer ter um título da dívida para vender, arrecadando dinheiro com o CDS. Nos mercados (quase) tudo é possível.

por Bruno Lopes e Filipe Cardoso
Fonte: O melhor jornal independente de Portugal o "i" nr 940

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