quinta-feira, 17 de maio de 2012

Zona Euro ou Zona Marco?




Zona Euro ou Zona Marco?
Os erros pagam-se sempre, mais tarde ou mais cedo. Quando foi negociada a moeda única ficou claro que o que se estava a construir não era uma Zona Euro (ZE), mas sim uma Zona alargada do marco alemão.
[..]A responsabilidade da imperfeição da ZE é resultado da frivolidade partilhada dos líderes políticos europeus. Contudo, hoje, com a crise europeia a atingir uma nova intensidade, a ideia letal de persistir na simples reparação do modelo original da União Económica e Monetária (UEM) é uma ilusão alemã, condenada ao fracasso. Se a UE quiser sobreviver temos de acabar com o fantasma do marco e construir uma efectiva Zona Euro.
Jens Weidmann, o jovem presidente do Bundesbank, é um dos rostos da irrealista intransigência alemã, que ameaça levar a Europa ao caos[..]Weidmann propõe uma receita de austeridade a todo o custo que começa a ser ofensiva, pelo contraste entre a situação alemã e a da periferia europeia.
Enquanto Grécia, Irlanda e Portugal jazem numa triste irrelevância, e a Espanha e a Itália pagam juros altíssimos pelas suas obrigações, a Alemanha transformou-se no benefíciário líquido do mal-estar dos outros europeus. Neste momento, a taxa de juro alemã pelos empréstimos de 10 anos ronda os 1,7%. Dado que a taxa de inflacção prevista este ano para a ZE é 2,4% isso significa que a Alemanha se transformou numa economia de refúgio. Por lamentável ironia, as elites endinheiradas dos países periféricos transferem as suas poupanças dos bancos nacionais para os depositarem na Alemanha a uma taxa de juro negativa. Na se trata de investimento, mas sim de mera procura de protecção. A Alemanha ganha com o pânico que o seu «monetarismo» ajuda a semear. O euro continua a permitir à Alemanha a manutenção de elevados excedentes comerciais que podem ser usados para adquirir activos nas economias em dificuldades, a preços de saldo. Enquanto a população activa dos países em dificuldades vê os seus rendimentos baixarem, e o desemprego aumentar, na Alemanha os sindicatos chegam a negociar aumentos salariais de 6%. ..
A «solução» Weidemann para a crise, pelo contrário, só vai acirra mais as diferenças abissais de competitividade entre as economias nacionais, conduzindo a um insanável conflito entre países credores e devedores[..]Esta poderia ser a hora da redenção germânica, salvando a Europa pelo exercício de uma hegemonia benévola e esclarecida. Mas tudo indica que, mais uma vez, Berlim, se deixada entregue a sia própria, vai deitar tudo a perder"