terça-feira, 15 de maio de 2012
Portugal não é a Grécia
"Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma
indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma
decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e
que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se
em paralelo, a Grécia e Portugal"
(in As Farpas) Eça de Queirós 1872
“Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva. À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.” Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora” (1867)
Ler no Jornal de Negócios: O vaticínio de Eça de Queirós
Tão antigo e tão actual!
Mas de referir que, se calhar, nós até estamos piores que os gregos já que o salário mínimo era de 751 euros e mesmo agora com uma redução de 22% do salário mínimo este ano o ordenado mínimo fixou-se em 586 euros...mais 100 euros que em Portugal (485euros).
Antes da crise os gregos tinham até o 15º mês e reformas antes de 60 anos para uma centena de profissões e o nível de vida era similar a Portugal...
Gregos somos nós!
Mas numa coisa não somos gregos não, eles ao menos demonstram descontentamento e revolta (e não, não estou a falar de vândalos que partem tudo sem respeito por ninguém com cara tapada e que ninguém sabe quem são, mas pensa-se que são enviados do regime usados como forma de dispersar manifestações pacíficas...e isso quase que ia acontecendo aqui este ano numa manifestação da greve geral, lembram-se do polícia português à paisana que inexplicavelmente começou à batatada? aliás isto é um mecanismo conhecido e usado pelos regimes, assim as pessoas não se manifestam por medo de vândalos e repressão policial).