sábado, 19 de maio de 2012

Resumo da Conferência: "Portugal na encruzilhada da Europa"

Europa afunda-se em crise e em austeridade
Esta tarde fui à conferência económica internacional organizada pelo BE (Bloco de Esquerda) na minha faculdade (FCUL). Só fui de tarde e tenho pena de não ter ido o dia inteiro, a entrada era livre e é sempre bom quando se organizam debates públicos em que toda a gente pode participar e discutir ideias.
Para começar não sou do BE (só votei por votar uma vez nas eleições autárquicas), foi um partido que me desiludiu antes de sequer me ter iludido realmente; isto porque lançaram a tal moção de censura que fez com que junto da oposição caísse o governo anterior (essa é a parte boa) a parte má é que fomos sujeitos a intervenção externa (seria esse o rumo com qualquer partido no poder...foram décadas de despesismo) mas o problema quanto a mim forem fazer uma campanha eleitoral de "Renegociar a dívida", quando tal como o PCP se recusaram a falar com a troika e negociar o que quer que seja (apesar de hoje o BE reconhecer que isso foi um erro). Resultado: foram castigados nas urnas e os deputados reduzidos a metade.
Mas eu acho interessantes muitas coisas do BE mesmo não votando neles e o Francisco Louçã é uma pessoa muito inteligente e teimo em separá-lo do resto dos políticos porque até hoje sempre deu provas de não o ser.
Mas estou desiludida com o BE antes de chegar a estar iludida é bem verdade!
Mas fora cores partidárias (não tenho nenhuma...o PAN conta?) é sempre bom ouvir os outros e aprender com eles.
O anfiteatro onde faço os testes e exames é enorme no entanto estava bem vazio durante a tarde e foi-se esvaziando ainda mais com o tempo, as pessoas lá dentro eram quase todas reformadas, algumas muito idosas mesmo o que me surpreendeu...o BE é tido como um partido de jovens, mas pouco se notou. Ou seja: os jovens, os mais afectados e com futuro hipotecado não se deram ao trabalho de irem sábado à faculdade escutar e discutir o rumo desta Europa, afinal eles só querem é o "emprego bom já!", como canta Boss AC em "Sexta-Feira" e de preferência alguém que lhe arranje...o resto da sociedade terá pouca importância o jovem da canção é precário, vive com os pais e nem pode pagar renda porque nem tem dinheiro para uma tenda mas não parece preocupar-se com a sociedade à sua volta só com ele e a sua precariedade e o desejo de ter o tal emprego bom para poder "ir para a brincadeira" e sair à noite o problema é que não tem um tostão.
 O seu objectivo é ter dinheiro para ele de preferência de modo fácil, como por exemplo, ser rico de nascença: "mãe fazias-me era rico em vez de bonito". (ler post: geração egoísta).
E os velhinhos que lá estavam permaneceram sempre atentos e interessados e lá passaram uma boa matiné informados e a informar enquanto a juventude estaria talvez quem sabe de ressaca pós-queima das fitas.
Não me surpreende no entanto não ter visto ninguém que conhecesse da minha faculdade: nem professores nem alunos, um dos poucos jovens até exclamou "eu acho que este auditório deveria estar cheio mas está vazio!". As pessoas ainda não perceberam o drama da situação...nem querem perceber! Não entendo!
Eu fui sozinha, não contei a ninguém que vinha por uma simples razão: as pessoas que conheço não têm interesse em nada que fuja ao seu quotidiano, não têm opinião, não criticam nada, aceitam tudo, têm aversão a política e todos os temas que se deixem de centrar só em si e na sua vidinha, não as censuro, são opções e há quem prefira estar na ignorãncia, é legítimo mas é por isso que eu há muito que desisti de ter algum tipo de contacto social com as pessoas da minha faculdade acho que é perda de tempo...até porque até à semana passada sugeri que fôssemos à manifestação da "Primavera Global" e nem me responderam e quanto à manifestação 15 de Outubro lá tive de ir sozinha a do 25 de Abril só arranjei uma pessoa as outras não lhes apeteciam ir "não ia adiantar de nada!".
Já para não falar de hoje ter dito a uma pessoa que ia a uma confereência sobre a austeridade na Europa e a pessoa ter perguntado "mas tu és de política? achava que eras de ciências!".
 A verdade é que não tenho ninguém com quem conversar sobre o que me interessa (por isso escrevo no blogue).

Portanto fazendo aqui um resumo da conferência em si, deixo-vos com alguns apontamentos que fiz de vários interlocutores:
*A austeridade é uma política económica contraproducente, o que é necessário é repôr os equilíbrios.
*O nosso objectivo pós-troika é "regressar aos mercados" que foram precisamente quem nos levou a esta situação.
*A crise da dívida soberana é uma crise de défice externo na balança de pagamentos da balança comercial.
*Desequilíbrios das contas públicas é uma consequência e não a causa da crise.
*Só é possível reduzir o défice externo com aumento de exportações e diminuição das importações e de crescimento económico que não resulte na aquisição de importações. E não é possível nem desejável que todos os países exportem mais ao mesmo tempo porque para alguém exportar mais alguém terá de importar mais e endividar-se mais. A alternativa é melhorar a balança de pagamentos com adequada política fiscal e replicar a desvalorização cambial.
*É um erro utilizar dinheiros públicos e garantias do estado para capitalizar o sistema bancário.
*Os supéravits comerciais de uns países [ex:Alemanha e Dinamarca que segundo ouvi na TV exportam para a UE entre 60% a 75% das suas exportações] eram  alimentados pelos défices comerciais de outros [ex: Portugal, Grécia os grandes importadores]. Assim os défices e dívidas de uns tornaram-se em oportunidades de negócio para outros. Por isso se uns se tornaram os elos mais fortes foi porque outros se tornaram elos mais fracos e esses mais fortes deveriam ter parte também das suas responsabilidades e solidarizar-se mais com os mais fracos que vêm as suas economias destruídas.
*A solução global é uma Economia Verde que use os recursos naturais de forma regrada e sustentável.
*Na Estrutura Europeia nem todos os países têm o mesmo poder. Aliás a Europa está monopolizada e em 1º lugar surge a chanceler alemã e depois o governador do BCE [que por acaso também está na Alemanha].
*A Europa precisa de fazer frente à chancelaria alemã.
*O Sr Trichet ex-governador do BCE defende que os "países que não estão a cumprir" devem ter a soberania assegurada pelos credores (ler:jn) ...foi assim com o argumento que certos países "não estavam a cumprir a política orçamental decidida" a França invadiu o México em 1962, a Inglaterra e França invadiram o Egipto em 1876 idem idem. Por isso cuidado com os federalistas!


Depois pudemos fazer perguntas e um senhor começou lá com picardias políticas dizendo coisas absurdas como "pudemos estar aqui a tarde toda mas isto só consegue dar a volta com a esquerda do PS"...nem merece os meus comentários isto...
Eu fiz uma pergunta retórica e irónica quando me deram a oportunidade:
"À pouco falou-se de que os défices de uns contribuíram para os supéravits de outros, isto é, uns tiveram de se endividar para outros crescerem à custa de outros e uma das medidas da UE foi liquidar a nossa capacidade produtiva como o extermínio da agricultura, pescas e indústria naval, deixando-nos ainda mais dependentes do exterior. A minha pergunta é: será isto digno de uma União Europeia política, económica e monetária?"
Uma senhora ao meu lado disse "não, não é".
Não é de facto!

Outra conferência que fui sobre a Europa: 25 anos de união europeia

Posts relacionados:
(des)União Europeia
Grécia fora do Euro?
EURO