sábado, 19 de maio de 2012

Timor: 10 anos de independência

Timor esteve 24 anos invadido pela Indonésia após retirada de Portugal após 25 de Abril de 1974 e fim do colonialismo. Durante a invasão indonésia as milícias e o exército indonésio espalharam a morte, o medo e destruição pelo país mas em 1999 porém houve um referendo em que os timorenses mesmo afastados para montanhas e intimidados pelas milícias acorreram em massa às urnas tendo um resultado esmagador: 78% queriam a independência em vez da anexação à Indonésia a seguir foi o que se viu durante 3 anos o povo timorense foi sujeito às mais diversas perseguições e torturas e só em 2002, Timor teve sua independência reconhecida pela comunidade internacional tornando-se até agora o país mais novo do Mundo.
Dez anos depois da independência Timor tem hoje um estatuto paradoxal: é um país pobre com uma conta bancária de luxo enquanto que há 10 anos tinha todo o seu Orçamento de estado financiado por doações estrangeiras. A razão de tanto dinheiro? Petróleo! (ver: Timor/Petroleo)
Se dantes o fundo petrolífero de Timor tinha 205 milhões de dólares hoje tem mais de 9 mil milhões de dólares, isto é, 45 vezes mais! Mas no entanto, metade da população continua a viver no limiar da pobreza.
É que este Fundo Petrolífero é blindado: um mínimo(!!!) de 90% do dinheiro tem de ser investido exclusivamente em instrumentos financeiros como títulos da dívida expressos em dólares americanos classificados por agências de rating americanas como a Moody's ou a Standard & Poors e os títulos têm ainda que ser emitidos ou garantidos pelo Banco Mundial ou um estado bem qualificado, sei lá...EUA? Ou seja um mínimo de 90% das receitas vão para o mercado especulativo em vez de estarem ao serviço das populações sendo controladas pelo imperialismo financeiro americano com a imposição do padrão dólar e com a ditadura das agências de rating americanas que são tão boas tão boas que classificaram com nível máximo vários bancos que faliram no dia a seguir à excelente classificação...o dinheiro dos investidores (ou especuladores como eu prefiro chamar-lhes) foi para o "galheto" como os tais investidores a maioria eram outros bancos ou empresas que apostavam dinheiro depositado das pessoas (comos abemos o dinheiro está sempre a circular) esse dinheiro também foi para o "galheto" e as pessoas perderam as poupanças, etc, etc...portanto são agências muito competentes e em quem se deve ter a máxima confiança! -.-
Mas voltando a falar de Timor dos 10% de receitas do Fundo Petrolífero que restam só uns míseros 3% do "rendimento sustentável estimado" desse fundo pode ser transferido para o Orçamento de Estado Timorense e caso o governo queira mais dinheiro tem que dar uma "explicação detalhada" a esses grandes capitalistas do mercado financeiro o porquê de quererem mais dinheiro que é seu por direito...e eles aceitam se quiserem! Portanto mais um país riquíssimo com recursos naturais lucrativos como o petróleo que se vê incapaz de se desenvolver minimamente como mega potências  tipo a Noruega (que também é rica quase só por causa do petróleo do Mar do Norte) que dão qualidade de vida aos seus cidadãos não tanto por corrupção interna mas mais por corrupção externa e favorecimento de grandes capitalistas que não sei porquê muitos devem viver lá para os lados do ocidente norte do Atlântico...
Fora o petróleo Timor não produz nada, para termos uma ideia, as receitas do Orçamento de Estado de 2012, foram de 2269 milhões de dólares sendo que apenas 136 milhões foram receitas não petrolíferas.
E as receitas do petróleo não são usadas para beneficiar a sua população!
para quem chega a Díli, 10 anos depois, parece que nada foi feito para combater a pobreza, a miséria e o desemprego...mas fora de Dili é ainda muito pior!
Sobre a polémica em torno da escolha da língua portuguesa como língua oficial o presidente Taur Matan Ruak diz que: "É parte da nossa identidade. Estranho era escolher o indonésio ou o inglês dos australianos. O português veio para ficar".
Para mim isto mostra também a gratidão e carinho que os timorenses sentem pelos portugueses que durante décadas os ajudaram na sua luta pela independência. Não há colonizações humanistas é verdade mas a colonização portuguesa foi mais além de mera autoridade, o português conquistou pelo diálogo prova disso está em locais tão distantes e fechados como a Ásia: a Indonésia teve séculos sob domínio de holandeses e hoje não há sombra da sua passagem por lá, na Indonésia há o ukele um instrumento inspirado pelo cavaquinho que os portugueses levaram para lá e Timor escolheu falar português, os portugueses fundaram Nagasaki no Japão através do comércio China/Japão (já que os dois países não se davam e não queriam comercializar directamente uns com os outros) e a cidade de Nagasaki em 2012 homenageou os portugueses com um monumento de uma caravela (e atenção os japoneses são muito fechados a estrangeiros), Macau outrora um pedaço de Portugal na Ásia conserva a sua identidade portuguesa e tem como 2ª língua o português que está traduzido em tudo o que seja monumento a seguir ao mandarim e se ainda forem à Índia em Goa, Damão ou Diu poderão ouvir pessoas a falar português (se o governo português não financiar programas educativos o português na Índia poderá desaparecer) e até na Malásia, mais precisamente em Malaca deixou vestígios...os primeiros contactos que os asiáticos tiveram com os ocidentais foram com portugueses e até na Tailândia há marcas.
Chamem-me romântica ou ingénua mas a verdade é que reconheço que a colonização foi um período selvagem da História da humanidade, mas à parte isso toda aquela aventura por um mundo desconhecido, toda aquela bravura e coragem, todas as lendas, todas as maravilhas que se desvendaram todo um encontro de mundos diferentes...até hoje não encontro episódio mais excitante e mágico da História do que as dos descobrimentos. E os portugueses podem ter usado força mas sozinhos e sem poder de cativar jamais poderiam ter conseguido o que conseguiram: o respeito e admiração do Mundo por esse povo antigo e corajoso...que temo já ter desaparecido.
Mas Timor é exemplo disso mesmo: Portugal deu novos Mundos aos Mundo e conquistou também pelo diálogo e tolerância.
Espero que Timor se desenvolva e as pessoas saiam da miséria que lhes é imposta pelos grandes capitalistas, o petróleo é um recurso de Timor, as receitas têm de ser usadas para desenvolver o país e dar qualidade de vida aos timorenses, sim tem de ser possível fora dos países nórdicos um país dar qualidade de vida aos cidadãos com as receitas do petróleo: os timorenses merecem, é seu direito!


Fonte: Público de 19-5-12
Entrevista completa no Publico